(um livro escrito página a página)
PEDROSSIAN E O PARTIDÃO
Na eleição de governadores em 1965 Pedrossian (PSD) disputou
e venceu Lúdio Coelho (UDN). Em todo o Brasil, venceram dois candidatos de
oposição, o próprio Pedrossian em Mato Grosso e Negrão de Lima no antigo Estado
da Guanabara.
Na ocasião, foi formado
um comitê de apoio ao candidato da oposição, com participação de profissionais
liberais, principalmente advogados, muitos dos quais acabaram presos. Entre
eles, estava Onofre da Costa Lima Filho, do Partidão. Embora não conste do
livro de memórias do governador eleito na ocasião, esse foi o primeiro contato
eleitoral dos comunistas com Pedro, ao que eu saiba. Essa derrota da ditadura
ajudou a promulgação do Ato Institucional nº 2, que extinguiu os partidos
tradicionais, substituindo-os por Arena e MDB. Pedrossian acabou sendo cooptado
pelo regime e seguiu sua carreira política de sucesso.
Indiretamente, através da primeira dama, vez por outra, Pedro
mantinha contatos reservados com nosso camarada Onofre, principalmente quando
estava fora do poder. Sempre indicava querer nosso apoio. A esse apelo, sempre
respondíamos que no partido da ditadura isso não seria viável, o que poderia
mudar se ele mudasse de partido, por exemplo, filiando-se ao PDT.
Pessoalmente, participei de duas tentativas de sedução. Certa
vez, quando eu era Pró-reitor de Extensão, o Reitor foi chamado para uma
reunião na governadoria, com a recomendação que me levasse junto. Pois bem,
encontramos na sala de espera o Prefeito Juvêncio e o Miro, Presidente do
Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil. Ninguém sabia do assunto.
Fomos então introduzidos na sala de reunião. Para nós foi uma
surpresa, a sala estava lotada pela imprensa mobilizada pela Coordenação de
Comunicação Social. Nessa ocasião o Governador anunciou o lançamento de um Plano
de Desfavelamento da Capital. Ao prefeito caberia doar os terrenos, à
Universidade organizar os estudantes de Engenharia para assistência técnica e
ao Sindicato, organizar trabalhadores para mutirão de construção das casas.
Terminada a reunião,
foi liberada a participação da imprensa. A Cogecom foi direta em cima de mim.
Descartei a entrevista falando que quem falava pela Universidade era o Reitor.
O governador me observava e disse: “Matto Grosso, você ainda vai falar bem de
mim na televisão”.
Certa vez, o CREA resolveu escrever um material sobre o
camarada Euclydes de Oliveira. Não podia fugir dessa tarefa, arranjei uns
professores para a elaboração do texto e assumi a responsabilidade de facilitar
entrevistas, entre as quais, com Pedrossian que tinha relacionamento pessoal e
profissional com Euclydes.
Alguns meses depois, fui procurado por alguns jornalistas,
que pediram a gravação de uma fala minha sobre o Governador. O que eu achava
dele. Era a cobrança da dívida. Segundo me garantiram, o material seria usado
para um vídeo-documentário destinado à memória familiar. Falei com sinceridade
e o elogiei como sendo único governador estadista que o estado conhecera.
Noutra ocasião, amigos comuns, articularam uma reunião
privada, a pedido do Governador. Autorizado pela direção do Partido, lá fui eu
para o tête-à-tête. Pedrossian queria uma aproximação com o Partidão. Seu
argumento principal era o de que ele era a única liderança anti-oligárquica do
estado, e que nós estávamos equivocado quanto aos Barbosas Martins,
representantes da “elite”.
O governador disse que queria a minha presença no governo,
porque ele liderava a mudança progressista. Dizia, “quero você nesta sala, onde
se discute o futuro do estado”. Dizia que o rame-rame da política, com políticos,
deputados, senadores e prefeitos eram tratado no térreo pelo vice-governador. O
primeiro andar era o lugar das decisões que mudariam o estado. Na ocasião,
exímio sedutor, ele relatou que na primeira reunião do secretariado, ele
colocara em cima da mesa um caixa de chocolates e anunciara que o primeiro que
levasse a ele uma boa ideia receberia um bombom. Reclamou que até aquele
momento a caixa de chocolate estava ainda embrulhada em celofane
Na verdade, essa conversa, não prosperou cada um foi cuidar da
sua vida. O Partidão continuou na oposição e nunca o chamou de “Dr. Pedro”,
como faziam os chegados.
Passado algum tempo, veio a eleição de Ciro Gomes (PPS, PDT e
PTB), de cuja coordenação eu fazia parte. Veio então nova convocação. Fui ao
seu apartamento para receber o apoio ao Ciro. Propiciei o primeiro contato
entre eles. No seu material de campanha passou a constar a citação do nosso
candidato, inclusive nos seus enormes out-doors.
Nada como um dia após
o outro e a paciência política.
Fausto Matto Grosso
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