sexta-feira, 6 de novembro de 2020

 

(um livro escrito página a página)

PEDROSSIAN E O PARTIDÃO


Na eleição de governadores em 1965 Pedrossian (PSD) disputou e venceu Lúdio Coelho (UDN). Em todo o Brasil, venceram dois candidatos de oposição, o próprio Pedrossian em Mato Grosso e Negrão de Lima no antigo Estado da Guanabara.

  Na ocasião, foi formado um comitê de apoio ao candidato da oposição, com participação de profissionais liberais, principalmente advogados, muitos dos quais acabaram presos. Entre eles, estava Onofre da Costa Lima Filho, do Partidão. Embora não conste do livro de memórias do governador eleito na ocasião, esse foi o primeiro contato eleitoral dos comunistas com Pedro, ao que eu saiba. Essa derrota da ditadura ajudou a promulgação do Ato Institucional nº 2, que extinguiu os partidos tradicionais, substituindo-os por Arena e MDB. Pedrossian acabou sendo cooptado pelo regime e seguiu sua carreira política de sucesso.

Indiretamente, através da primeira dama, vez por outra, Pedro mantinha contatos reservados com nosso camarada Onofre, principalmente quando estava fora do poder. Sempre indicava querer nosso apoio. A esse apelo, sempre respondíamos que no partido da ditadura isso não seria viável, o que poderia mudar se ele mudasse de partido, por exemplo, filiando-se ao PDT.

Pessoalmente, participei de duas tentativas de sedução. Certa vez, quando eu era Pró-reitor de Extensão, o Reitor foi chamado para uma reunião na governadoria, com a recomendação que me levasse junto. Pois bem, encontramos na sala de espera o Prefeito Juvêncio e o Miro, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil. Ninguém sabia do assunto.

Fomos então introduzidos na sala de reunião. Para nós foi uma surpresa, a sala estava lotada pela imprensa mobilizada pela Coordenação de Comunicação Social. Nessa ocasião o Governador anunciou o lançamento de um Plano de Desfavelamento da Capital. Ao prefeito caberia doar os terrenos, à Universidade organizar os estudantes de Engenharia para assistência técnica e ao Sindicato, organizar trabalhadores para mutirão de construção das casas.

  Terminada a reunião, foi liberada a participação da imprensa. A Cogecom foi direta em cima de mim. Descartei a entrevista falando que quem falava pela Universidade era o Reitor. O governador me observava e disse: “Matto Grosso, você ainda vai falar bem de mim na televisão”.

Certa vez, o CREA resolveu escrever um material sobre o camarada Euclydes de Oliveira. Não podia fugir dessa tarefa, arranjei uns professores para a elaboração do texto e assumi a responsabilidade de facilitar entrevistas, entre as quais, com Pedrossian que tinha relacionamento pessoal e profissional com Euclydes.

Alguns meses depois, fui procurado por alguns jornalistas, que pediram a gravação de uma fala minha sobre o Governador. O que eu achava dele. Era a cobrança da dívida. Segundo me garantiram, o material seria usado para um vídeo-documentário destinado à memória familiar. Falei com sinceridade e o elogiei como sendo único governador estadista que o estado conhecera.

Noutra ocasião, amigos comuns, articularam uma reunião privada, a pedido do Governador. Autorizado pela direção do Partido, lá fui eu para o tête-à-tête. Pedrossian queria uma aproximação com o Partidão. Seu argumento principal era o de que ele era a única liderança anti-oligárquica do estado, e que nós estávamos equivocado quanto aos Barbosas Martins, representantes da “elite”.

O governador disse que queria a minha presença no governo, porque ele liderava a mudança progressista. Dizia, “quero você nesta sala, onde se discute o futuro do estado”. Dizia que o rame-rame da política, com políticos, deputados, senadores e prefeitos eram tratado no térreo pelo vice-governador. O primeiro andar era o lugar das decisões que mudariam o estado. Na ocasião, exímio sedutor, ele relatou que na primeira reunião do secretariado, ele colocara em cima da mesa um caixa de chocolates e anunciara que o primeiro que levasse a ele uma boa ideia receberia um bombom. Reclamou que até aquele momento a caixa de chocolate estava ainda embrulhada em celofane

Na verdade, essa conversa, não prosperou cada um foi cuidar da sua vida. O Partidão continuou na oposição e nunca o chamou de “Dr. Pedro”, como faziam os chegados.

Passado algum tempo, veio a eleição de Ciro Gomes (PPS, PDT e PTB), de cuja coordenação eu fazia parte. Veio então nova convocação. Fui ao seu apartamento para receber o apoio ao Ciro. Propiciei o primeiro contato entre eles. No seu material de campanha passou a constar a citação do nosso candidato, inclusive nos seus enormes out-doors.

  Nada como um dia após o outro e a paciência política.

Fausto Matto Grosso

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