(um livro escrito pagina por página)
O GINECOLOGISTA VERMELHO
O PCB, em Mato Grosso
do Sul, ainda na ilegalidade, tinha uma forte inserção nas camadas médias. Nele
militaram expressivas lideranças de diversos segmentos profissionais, como
médicos, advogados, engenheiros, professores, profissionais de saúde pública,
entre outros. Normalmente eram profissionais que após cursarem universidades em
outros estados, para cá voltavam já engajados na luta política de esquerda.
Na ilegalidade, havia também uma rede de simpatizantes da
qual pouco se sabia. Ninguém sabia exatamente onde terminava o partido e onde
começavam a franja de apoiadores.
Escutava-se o canto do grilo, mas não se sabia exatamente quem era e
onde ele estava. Muitos desses quadros e simpatizantes, pelo sucesso
profissional durante o milagre brasileiro, acabaram virando fazendeiros, a
ponto de nossos detratores, querendo nos amesquinhar diziam que PCB significava
partido dos criadores de bois.
Nossa vinda para legalidade, em 1985, onde os nomes foram
dados aos bois, foi um momento de grande impacto na sociedade local. Da nossa
primeira direção estadual legal participavam pessoas com o cirurgião Alberto
Neder, o engenheiro Euclydes de Oliveira militante desde 1935, os advogados
Onofre da Costa Lima Filho, Carmelino Rezende, a pecuarista Yonne Orro (depois
substituída pelo criminalista Renê
Siufi, para que ela pusesse dirigir o partido em Aquidauna), o arquiteto
douradense Luiz Carlos Ribeiro, os professores Amarilio Ferreira Jr. e Paulo
Roberto Cimó, a liderança do movimento de favelas Paulo Sudório. Na Câmara
tínhamos dois vereadores, eleitos através do PMDB, eu e Marcelo Barbosa
Martins, de ilustre sobrenome político. Foi uma grande surpresa para muitos.
Na direção municipal
de Campo Grande, tínhamos nomes de destaque como o desembargador
recém-aposentado Athayde Neri de Freitas (recém aposentado), e os médicos Alan
Pithan e Lúcio Bulhões, entre outros.
Já nos primeiros dias
da legalidade, recebi um telefonema de uma aluna, de tradicional família
campo-grandense, que muito tinha me ajudado na campanha de vereador.
Perguntou-me se eu era comunista de verdade, e que queria ouvir disso de minha
própria boca. Diante da minha afirmativa, ela disse que ia ter que refletir
sobre o assunto de comunismo com mais atenção. Pouco horas depois voltou a
telefonar querendo saber se Marcelo Barbosa Martins era também comunista. Agora
ela estava enrascada pois havia pedido voto para ele na família,
super-direitista, para o “Marcelinho”, e que jamais ia ser perdoada por isso.
Tarde da noite ela me retornou, perguntando a respeito do Paulo Correa da
Costa, confirmada a resposta ela não teve como se conter e exclamou, “Putz! até
o meu ginecologista era do Partidão e eu nem desconfiava”.
Fausto Matto Grosso
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