sábado, 7 de novembro de 2020

 

(um livro escrito página a página)

O COLÉGIO NOSSA SENHORA AUXILIADORA E A CLANDESTINIDADE


As filhas da Imaculada Conceição, instituição centenária mantenedora do tradicional Colégio Nossa Senhora Auxiliadora já teve seu tempo de clandestinidade. Durante a unificação italiana (1815 e 1870), um tempo de extremo anticlericalismo, era perseguida junto com a extrema-esquerda, maçons carbonários, jacobinos, republicanos e democráticos. O trabalho das filhas da Imaculada com as meninas, liderada pela madre Maria Mazzarello, acabou confluindo com o trabalho de Dom Bosco, com meninos, na Congregação Salesiana.

O Partido Comunista (PCB), agora Cidadania, prestes a completar 100 anos (2022) também conheceu a clandestinidade por anos a fio. Em 1974 sofreu a mais dura repressão, o que obrigou a sua direção a se refugiar no exterior. Nesse período, a “assistência política” da direção estadual do partido passou a ser prestada pela direção partidária do estado de São Paulo.

Certa vez, lá nos meados da década de 1970, precisávamos de um local para uma reunião muito reservada e segura com esses dirigentes e assistentes. Esgotadas as minhas possibilidades, o camarada Onofre falou que eu deixasse o assunto com ele. Poucas horas depois me ligou, para meu assombro, dizendo que o Colégio Auxiliadora estava à disposição.

  Muito do respeito e da capacidade de articulação gozados pelo Partidão era devida à política de procurarmos nos manter sempre como “peixe n’água” como insistia o camarada Onofre. Estarmos integrados no meio. Também nos ajudava o fato de contarmos com profissionais respeitados, médicos, advogados, engenheiros, professores, etc.; bem vistos na sociedade. O Onofre era um deles, advogado do Rachidão à Missão Salesiana, nesta o seu principal contato era o ecônomo, que cuidava das finanças dos salesianos. Sempre conversavam sobre política, pois seu irmão era filiado ao Partido Comunista Italiano. Assim foi resolvida a questão do local seguro e insuspeito.

O Auxiliadora era um colégio respeitado, onde se educava a fina flor das moças das “boas famílias”. Lá se cultivava a ciência, mas também os valores cristãos.

Cabia a mim, como secretário de Organização, operacionalizar a reunião. Perguntei se deveria conversar com a Madre Superiora, o que foi considerado desnecessário. Mesmo assim, por estilo, lá compareci. Falei para a madre que queria dar-lhe informações mínimas sobre a natureza da reunião. Ela me cortou, dizendo que não precisava saber de nada, pois se o ecônomo autorizou não precisava mais informações. Só queria saber o horário para servir o cafezinho.

Assim no dia seguinte, ordenadamente, usando todas as portas, foram chegando os comunas. Tivemos um dia produtivo de trabalho e um almoço delicioso. Lição que aprendi, você pode estar mal com todos os outros, menos com o ecônomo. Benza Deus.

Fausto Matto Grosso

 

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