(um livro escrito página a página)
O
COLÉGIO NOSSA SENHORA AUXILIADORA E A CLANDESTINIDADE
O Partido Comunista (PCB), agora Cidadania, prestes a
completar 100 anos (2022) também conheceu a clandestinidade por anos a fio. Em
1974 sofreu a mais dura repressão, o que obrigou a sua direção a se refugiar no
exterior. Nesse período, a “assistência política” da direção estadual do
partido passou a ser prestada pela direção partidária do estado de São Paulo.
Certa vez, lá nos meados da década de 1970, precisávamos de
um local para uma reunião muito reservada e segura com esses dirigentes e
assistentes. Esgotadas as minhas possibilidades, o camarada Onofre falou que eu
deixasse o assunto com ele. Poucas horas depois me ligou, para meu assombro,
dizendo que o Colégio Auxiliadora estava à disposição.
Muito do respeito e da
capacidade de articulação gozados pelo Partidão era devida à política de
procurarmos nos manter sempre como “peixe n’água” como insistia o camarada
Onofre. Estarmos integrados no meio. Também nos ajudava o fato de contarmos com
profissionais respeitados, médicos, advogados, engenheiros, professores, etc.;
bem vistos na sociedade. O Onofre era um deles, advogado do Rachidão à Missão
Salesiana, nesta o seu principal contato era o ecônomo, que cuidava das
finanças dos salesianos. Sempre conversavam sobre política, pois seu irmão era
filiado ao Partido Comunista Italiano. Assim foi resolvida a questão do local
seguro e insuspeito.
O Auxiliadora era um colégio respeitado, onde se educava a
fina flor das moças das “boas famílias”. Lá se cultivava a ciência, mas também
os valores cristãos.
Cabia a mim, como secretário de Organização, operacionalizar
a reunião. Perguntei se deveria conversar com a Madre Superiora, o que foi
considerado desnecessário. Mesmo assim, por estilo, lá compareci. Falei para a
madre que queria dar-lhe informações mínimas sobre a natureza da reunião. Ela
me cortou, dizendo que não precisava saber de nada, pois se o ecônomo autorizou
não precisava mais informações. Só queria saber o horário para servir o
cafezinho.
Assim no dia seguinte, ordenadamente, usando todas as portas,
foram chegando os comunas. Tivemos um dia produtivo de trabalho e um almoço delicioso. Lição que
aprendi, você pode estar mal com todos os outros, menos com o ecônomo. Benza
Deus.
Fausto Matto Grosso
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