ZONA DE REBAIXAMENTO (*)
A
cada crise política cresce, na sociedade brasileira, um sentimento
difuso favorável a mudanças no sistema político-eleitoral. Embora
viva impasses na sua tramitação no Congresso Nacional, a Reforma
Política já tem alguns pontos de forte consenso, entre esses o
financiamento público de campanhas e a proibição de coligações
nas eleições legislativas.
Esta
última questão é uma importante medida para dar identidade aos
partidos políticos. A ninguém será dada a oportunidade de tomar
carona em votos emprestados de outras legendas. A representação
assim conseguida terá maior caráter partidário e menor caráter
pessoal, como convém a um sistema democrático que precisa de
partidos fortes e com identidade político-ideológica. Por isso,
todos os partidos, grandes e pequenos, se preparam para lançar
chapas completas de vereadores nas próximas eleições.
O
mesmo já não acontece com relação a candidaturas a prefeitos,
quando muitas agremiações abdicam precocemente da possibilidade de
apresentar suas diferentes propostas ao julgamento eleitoral da
população. Dissolvem sua identidade, desaparecem do debate
eleitoral e passam a ser representadas por lideranças de outros
partidos. Candidatam-se à insignificância e assumem a inexistência
de fato.
Fossem
as coligações nas eleições majoritárias, frutos de construções
autenticamente programáticas, esse fato poderia ser perfeitamente
aceitável e representar até, em certa medida, maturidade política.
Mas o que acontece, no geral, é a pura adesão a candidaturas
polarizadoras, a partir de projetos de poder e não de projetos
construídos nas relações dos partidos com a sociedade. Aqueles que
assim procedem empobrecem e amesquinham o debate político, ao não
colocar alternativas diversas à sociedade. Esta acaba comendo um
prato feito na pobreza do cardápio das opções apresentadas.
Este
contexto acaba criando dois tipos de partido, os de primeira classe e
aqueles que abdicam de disputar na primeira divisão, ou mesmo de
jogar jogo algum. Aí vale a máxima futebolística, “time que não
joga, não tem torcida”. Os grandes continuarão grandes e os
outros passam a ser meras siglas para negócios eleitorais.
Por
outro lado, as eleições municipais, principalmente nas capitais,
estão se constituindo em preliminares para as eleições de 2010. Em
todos os lugares é isso que se vê. Daí as orientações nacionais,
de diversos partidos, para a disputa, com candidaturas próprias,
pelas prefeituras. Para os grandes é um momento vital para a eleição
presidencial, para os pequenos, para se superar a cláusula de
barreira.
No
caso do PPS é também essa a orientação eleitoral nacional.
Candidaturas próprias nos 164 municípios brasileiros com mais de
100 mil eleitores, com supervisão da Executiva Nacional. O PPS, a
prevalecer a orientação nacional, vai jogar em Dourados e Campo
Grande porque, com a sua história e a sua política democrática de
esquerda, não deve jogar no campo pelado da várzea.
Fausto
Mato Grosso
(*)
Artigo originalmente publicado no Jornal da Cidade
(http://www.jornaldacidadeonline.com.br/), de Campo Grande (MS), em
16 de novembro de 2007, data em que o autor voltou a colaborar como
colunista do jornal, fundado no final da década de 1970.
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