O PRAGMATISMO QUE DESTRÓI A POLÍTICA (*)
O
homem sensato adapta-se ao mundo; o insensato insiste em tentar
adaptar o mundo a si próprio. Por conseguinte, todo o progresso
depende dos homens insensatos.
George
Bernard Shaw
O
Brasil viveu nos últimos anos um processo de desmoralização dos
partidos e dos políticos.
Medidas
provisórias subjugando o Legislativo, fisiologismo explícito,
aparelhamento de cargos públicos, troca-troca partidário em
benefício dos governos, mensalão, escândalos com emendas
parlamentares, entre outras coisas, jogaram em nível ainda mais
baixo o prestígio dos políticos e dos partidos.
Como
conseqüência mais perversa desses fatos: o descrédito da política
como instrumento de convivência humana civilizada diante dos
conflitos existente na sociedade.
Felizmente,
antes de terminar o ano passado, o TSE, em medida moralizadora, joga
uma oportunidade de redenção para a política: a decisão que
subordina os mandatos aos partidos. A oportunidade estava dada para a
mudança. As eleições poderiam, assim, se transformarem em disputas
de programas partidários e deixarem de serem disputas por projetos
pessoais.
No
plano nacional, diante desse novo contexto, como é óbvio, quase
todos os partidos começaram a decidir pelo lançamento de
candidaturas próprias nas maiores cidades, com exceção dos
partidos que hegemonizam o poder central, principais beneficiários
da prática do “amor remunerado”.
Entretanto,
quando essa política chega aos municípios vem sendo contraditada
pela política paroquial. A atitude programática passa a ser
contestada pela atitude “pragmática”. O pior é que tal prática
se generaliza em todo o espectro ideológico: direita, centro e
esquerda. Nisso há uma tendência de todos se comportarem
igualmente.
Alianças
impensáveis começam a serem cogitadas. Os que se posicionam por
atitudes de independência são cobrados a apontar a prévia
viabilidade financeira da campanha, sem se perguntar de onde virá o
dinheiro dos candidatos hegemônicos. Antigamente havia pejo em se
tratar esse assunto publicamente, hoje virou a coisa mais natural da
política, com nenhum pudor.
Admitem-se
candidaturas apenas se, previamente, forem para ganhar. Não percebem
que a verdadeira vitória, não a de Pirro, só virá para os que se
jogam na luta. Não fosse assim o partido da ditadura ainda estaria
no poder. Quantas vezes, no caso da esquerda, perdemos, para um dia
chegar ao poder, mesmo que hoje estejamos envergonhados de tê-lo
conquistado em tão más companhias, com gente que foi ficando cada
vez mais iguais à seus antigos adversários.
Tivemos
que conquistar cada espaço, respaldado nas idéias e não na certeza
da vitória. Tivemos que ousar, que ser insensatos, para construir
essa democracia que, hoje, se encontra ameaçada pelo pragmatismo dos
projetos de poder pessoal, liderado pelos políticos do movimento dos
sem programas.
Pobre
país, pobre democracia essa dos políticos do “baixo clero” que
não enxergam a exigência dos novos tempos que clamam por política
com motivação pública.
Viva
a insensatez!
Fausto
Matto Grosso
(*)
Artigo originalmente publicado em 27 de janeiro de 2008, no Jornal da
Cidade (http://www.jornaldacidadeonline.com.br), de Campo Grande
(MS), meio de comunicação em que o autor é colunista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário