UM BOM LUGAR PARA SE VIVER
Jornal
da Cidade - 20/04/2008
Parece
ser o nome de um filme, talvez até o seja, mas foi a partir dessa
afirmação do senso comum que enfrentei o desafio de ver os números
de Campo Grande.
Escolhi
nove cidades desse “centro-oeste expandido” com os quais nos
relacionamos, e que têm semelhanças conosco quanto à população,
estrutura econômica, e centralidade regional.
No
Paraná, Londrina e Maringá, naturalmente deixei de fora Curitiba,
pois a comparação seria covardia. Em São Paulo, Prudente e Rio
Preto, ficaram fora Campinas, São José dos Campos, porque já estão
na nova economia do conhecimento. Em Minas Gerais, Uberaba e
Uberlândia. Em Goiás, Goiânia. Em Mato Grosso, Cuiabá.
Pasme
o distinto público, considerando Campo Grande o nono município para
a comparação, ficamos em último lugar entre todos eles, quando ao
Índice de Desenvolvimento Humano – IDH (2000), referência adotada
para a análise da qualidade de vida da população.
Adotando
os IDH temáticos, somos o sétimo em IDH longevidade – ganhamos de
Goiânia e Cuiabá - o sétimo em IDH educação – ganhamos de
Londrina e Uberaba - e último em IDH renda.
Tomando
outros indicadores da área da sócio-economia, somos o último em
renda percapita, o penúltimo em percentagem de pobres e o sexto em
concentração de renda, que aumentou entre o levantamento de 1991 e
2000.
Quanto
à esfera social, somos o penúltimo em mortalidade infantil,
penúltimo em esperança de vida ao nascer e nosso melhor resultado é
um quarto lugar com relação a anos de escolaridade média da
população.
Naturalmente
poupei os leitores da citação dos números, que podem ser
confirmados no Atlas de Desenvolvimento Humano, no sítio
www.pnud.org.br, mas discursos podem enganar, números, dificilmente.
Onde
encontrar respostas para esse aparente paradoxo de uma seqüência de
administradores considerados bons produzirem uma cidade que não se
completa para a realização do bem comum? Esta é a questão
que deve nos desafiar a todos.
Cá
comigo tenho as minhas convicções.
Não
se constrói desenvolvimento investindo em coisas e sim investindo em
gente. Não se constrói progresso apenas com concreto, mas com
políticas públicas efetivas, que tenham em conta os problemas reais
da população.
Não
se constrói cidade fazendo surpresa para a população, anunciando
pelos jornais as obras que o prefeito vai fazer, o presente que vai
ser dado à cidade. A construção da cidade tem que ser um projeto
de ampla cumplicidade com a sociedade. Democracia é o nome disso.
Não
se constrói cidade sem sonhos e utopias, sem alma, sem um grande
projeto de futuro, sem planejamento. Uma boa cidade não pode ser
construída pensando no futuro do mandato, mas no futuro das próximas
gerações. A grande diferença entre um bom administrador e um
estadista realizador de sonhos é que aquele faz tudo o que é
possível, enquanto o este torna possível àquilo que é necessário.
Se fosse para escolhermos apenas um bom administrador, melhor e menos
custoso seria um concurso público e não uma eleição.
As
prioridades da cidade não podem ser ditadas unicamente pelas
disponibilidades das rubricas do orçamento federal e pelas
famigeradas emendas parlamentares. Um estadista é aquele que sabe
inverter essa lógica e mobilizar todos os tipos de recursos para as
prioridades ditadas pelos problemas da população. Há uma
energia imensa a ser mobilizada quando o projeto não é apenas do
administrador de plantão, mas reproduz uma cumplicidade mais ampla
da sociedade.
A
boa administração não se mede pelo volume de concreto e asfalto ou
pela beleza das obras ou, ainda, pelo encantamento das ruas e
avenidas, mas pelos resultados concretos na vida das pessoas.
Minha
terra tem palmeiras, mas como dizia minha avó, beleza não põe a
mesa.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Engenheiro
e Professor da UFMS
faustomt@terra.com.br
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