ADEUS AOS CANTEIROS DE MATO GROSSO (*)
A
obra do monumental templo evangélico que está sendo construído na
Mato Grosso tem sido objeto de acesa polêmica. Entretanto o pano de
fundo desse problema há muito vem sido pintado.
No
final da década de 70, Campo Grande se preparava para ser capital.
Durante a administração do Prefeito Marcelo Miranda, foi elaborada
uma avançada Lei do Uso do Solo orientada pelo urbanista Jaime
Lerner, pela qual se reservava várias áreas privadas, de grande
dimensões, localizadas na região central da cidade, e classificadas
como “Zonas Especiais”, para as quais só poderia ser dada
destinação púbica.
Eram
consideradas reservas para a construção de edifícios públicos, de
equipamentos culturais como teatros, museus, bibliotecas e outras de
naturezas afins. A legislação ousada baseava-se no princípio de
que a propriedade deveria cumprir a sua função social. Eram espaços
vitais para a organização da vida futura da cidade.
Esses
imóveis se sujeitavam, naturalmente, a um universo restrito de
compradores - União, Estado ou Município - portanto com preço
comprimido pelo mercado. Eram verdadeiros “micos” nas mãos de
seus proprietários, a menos que se lhes fossem alteradas as
classificações.
Foi
uma época de grandes embates na Câmara Municipal. Foram lançados
vários empreendimentos para esses locais, que vinham associados a
propostas de mudanças na Lei do Uso do Solo.
Certa
feita foi lançado um projeto de um grande shopping center no
quarteirão do atual templo, que exigia a retirada da feira livre. No
“buracão” da Pedreira, foi projetado um conjunto de oito torres
residenciais. A tudo isso se opunham as entidades de engenheiro e de
arquitetos, que conseguiam levantar consigo amplos segmentos da
opinião pública.
Esses
empreendimentos acabaram não se realizando por razões de natureza
econômica, mas acabaram levando à modificação da classificação
de uso dessas áreas. A Câmara Municipal que sempre se posicionava
100% contrária às mudanças, amanhecia no dia da votação com
ampla maioria em apoio às mesmas.
Hoje
temos o templo evangélico, que tanta polêmica já gerou com os
impactos nas edificações vizinhas. Quando começar a funcionar
plenamente, congestionará irremediavelmente a Avenida Mato Grosso.
Algumas
quadras acima, um imenso canteiro de obras anuncia outro
mega-empreendimento. Dessa vez um templo de consumo, um imbatível
"super-hiper-mercado" com amplo impacto de vizinhança, com
imenso potencial de concentração de trafego.
E
a cidade que já fomos vai começando a se perder na sua trajetória
cultural. Triste destino esse das cidades sem passado.
Quem
quiser guardar uma lembrança para, no futuro, matar saudades ou
mostrar para os netos, trate de tirar uma foto do canteiro da Avenida
Mato Grosso.
Fausto
Matto Grosso
(*)
Artigo originalmente publicado em 13 de janeiro de 2008, no Jornal da
Cidade (http://www.jornaldacidadeonline.com.br), de Campo Grande
(MS), meio de comunicação em que o autor é colunista.
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