UMA CIDADE PARA O CIDADÃO (*)
O
futuro é uma construção humana aberta, que vai sendo edificada
pelos diferentes atores sociais, com suas ações ou pela falta
delas. Campo Grande do futuro será o resultado da resposta que for
sendo dada, ao longo dos anos, para os seus desafios fundamentais, e
estes não são poucos.
No
contexto da globalização, a cidade, se quiser se projetar
progressista, deverá buscar seu espaço na rede mundial e nacional
de cidades. Isto significa estar conectada com outros centros
dinâmicos com os quais trocará cultura, bens e serviços. Muitas
são as condições para tal. A sua posição estratégica no
interior brasileiro e no contexto sul-americano, a credencia para
tanto. O início da construção do Porto Seco sinaliza,
promissoramente, nesse sentido. Sua condição de pólo distribuidor
do turismo ecológico mundial para o Pantanal e Bonito reforça essa
possibilidade.
Paralelamente
à globalização surge o desafio do processo de localização, ou
seja, o de se tornar um ponto particular do universo a partir da sua
especificidade sócio-cultural, econômica e ambiental. Tanto mais
global será, quanto mais valor de identidade local incorporar à
rede. Na dialética da mundialização Campo Grande poderá se
afirmar como única, a partir de uma construção consciente da sua
sociedade.
No
contexto da revolução científica tecnológica, e da afirmação da
sociedade pós-industrial, terá que se definir entre o
tradicionalismo da sua economia ou do salto para economia baseada
produção de bens simbólicos e de mercadorias de alta densidade de
conhecimento. Muito ainda há o que se fazer nessa esfera da
modernização da economia.
Entre
todas as questões, a democratização é o maior desafio, porque
permite a construção da cidade a partir de um projeto mais
coletivo, mais generoso, mais compartilhado, mais cidadão. Mais do
que a infra-estrutura, mais do que a capacidade de arrecadação,
mais do que a qualidade dos governantes, o que é decisivo para o
desenvolvimento de uma cidade é o seu capital social. Quanto mais
ampla e organizada for a rede de relações entre as instituições
da cidadania, maior será a qualidade do desenvolvimento e maior a
sua sustentabilidade.
Nesse
sentido, Campo Grande ainda terá que forjar, com a participação
ampla dos seus atores sociais, um grande projeto utópico, de longo
prazo, condicionador de sucessivos governos aos desígnios da
cidadania e ao controle social. Tal instrumento poderá garantir
continuidade nas políticas públicas e nos investimentos
estratégicos e articular os limitados orçamentos públicos com os
recursos existentes na sociedade sob a forma do empreendedorismo, da
responsabilidade social e do voluntariado. Paralelamente ao orçamento
público poderá se estruturar um “orçamento da cidade” contando
com todos esses recursos adicionais, normalmente não contabilizados,
mas disponível para projetos construídos compatilhadamente.
Campo
Grande poderá realizar a utopia da radicalidade democrática,
diminuindo a separação entre governantes e governados. O Poder
poderá ser compartilhado entre as instituições e estas serem
organizadas na escala dos cidadãos. Assim o executivo e o
legislativo, as universidades e a iniciativa privada, as igrejas e o
terceiro setor, o judiciário e o ministério público, os movimentos
sociais e o voluntariado poderão serão parceiros de um
desenvolvimento pactuado coletivamente.
A
cidade tem o desafio de se edificar em uma escala mais humana. A
infra-estrutura deverá ser pensada como um instrumento e não como
um fim em si próprio, para se ter melhor qualidade de vida, melhor
qualidade ambiental e mais integração cultural. A infra-estrutura
poderá cumprir um papel de minimizar a exclusão e de ajudar a
democratizar as oportunidades, possibilitando, a todos, o acesso aos
benefícios do desenvolvimento.
Nossa
cidade pode se fazer promissora, articular-se para enfrentar essa
desafiadora realidade e construir capacidade para vencer tais
desafios. Essa utopia mobilizadora pode ser um sonho factível se for
capaz de mobilizar as das energias cristalizadas na sua, ainda
tímida, sociedade civil. A cidade do futuro será feita da
realização dessas utopias.
Fausto
Mato Grosso
(*)
Artigo originalmente publicado em 25 de novembro de 2007, no Jornal
da Cidade (http://www.jornaldacidadeonline.com.br), de Campo Grande
(MS), meio de comunicação em que o autor é colunista.
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