PARA TODOS OS GOSTOS (*)
Chipanzé,
Maquiavel e Ghandi. Assim Carlos Matus, ex-ministro de Allende,
tipificava os estilos de liderança política. Essa seqüência
representaria a evolução civilizatória.
Tais
quais os chipanzés, os líderes assim classificados, são
caracterizados pela expressão “o fim sou eu”. A forca representa
o seu atributo político principal. Não existe projeto algum - o
líder guia a manada a lugar nenhum e é guiado pela lógica de que
“o projeto é o chefe e o chefe é o projeto”. A sua substituição
se dá quando surge um líder com mais forca, quase sempre pela
violência. É o estilo mais primitivo de fazer política. Os
ditadores sul-americanos, velhos e novos, são uma boa representação
desse espécime.
“Os
fins justificam os meios” essa é a síntese da ideologia que
sustenta o estilo Maquiavel. Em relação ao estilo anterior, a
grande diferença é que neste caso há um projeto, que transcende o
líder. O projeto não é mais individual, é coletivo, tem base
social, mas é impossível realizá-lo sem o líder.
Aqui
o poder pessoal não é o objetivo, mas o instrumento. Nesse
contexto, não há amigos, só adversários e inimigos. O jogo
político é pesado, pois prevalece a lógica de derrotar o
adversário ou “inimigo” e, se necessário, em caso extremo,
eliminá-lo.
Mas
a humanidade já conseguiu produzir, embora mais raramente, um outro
tipo de líder, que baseia a sua liderança na forca moral e no
consenso. Ghandi é o paradigma desse tipo de liderança política.
Também
aqui o projeto é coletivo, mas o líder não disputa para se-lo. Não
precisa força física, lidera pela força do consenso e sua força é
a superioridade de seus valores e da sua ética. Não precisa
construir inimigos para vencê-los, mas sim subordinar e ganhar os
adversários pela razão objetiva do projeto socialmente superior.
Pratica a coerência entre discurso e ação, essa coisa hoje tão
rara entre as igrejas, os estados, os partidos e as pessoas e que
está na raiz da atual desmoralização da política.
Esses
estilos de lideranças políticas raramente são encontrados em
estado puro. Também, o líder não os escolhe ao seu bel prazer. O
estilo real de cada político acaba sendo uma combinação particular
entre alguns dos estilos básicos. Há que se falar em
características predominantes e isso vai depender tanto da sua
personalidade como do contexto dentro do qual se realizam as
disputas.
A
cada estilo de liderança vai corresponder um comportamento político
esperado. O de pensar e usar o governo como coisa sua, ou
comportar-se segundo princípios republicanos. O de isolar-se no uso
pessoal do poder ou de compartilhá-lo com a sociedade. O de
perpetuar conflitos ou buscar convergências que possam viabilizar
projetos de interesse público.
Certamente
Matus não escreveu esse tema para o Brasil ou para Mato Grosso do
Sul. Mas sua validade e atualidade são preciosas para ajudar-nos a
pensar a nossa política.
Fausto
Matto Grosso
(*)
Artigo originalmente publicado em 9 de dezembro de 2007, no Jornal da
Cidade (http://www.jornaldacidadeonline.com.br), de Campo Grande
(MS), meio de comunicação em que o autor é colunista.
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