(Este artigo fará parte do livro Histórias que ninguém vai contar)
LUDIO E O PARTIDÃO
Com a vitória de Wilson Martins para o governo, em 1982,
cabia-lhe fazer a indicação do prefeito da capital. Essa era a regra herdada da
ditadura, já que as capitais eram consideradas áreas de segurança nacional e
nestas não havia eleições diretas.
Wilson poderia
escolher qualquer um, ao seu livre arbítrio, mas o grupo do PMDB autêntico,
liderado por Juarez Marques Batista e Valter Pereira, queria fazer a indicação,
assim como os oriundos do PP pleiteavam a indicação de Antônio Mendes Canale.
Por sua vez, Wilson já pretendia indicar Ludio Coelho, por retribuição ao apoio
dos pecuaristas durante a campanha. Entretanto, precisava viabilizá-lo politicamente. Com sua visão de frente democrática, os
pecebistas também defendiam, como Wilson, que quem tivesse participado da
campanha deveria participar do governo.
Além do mais, avaliavam que era importante aliviar a pressão e a
desconfiança dos setores conservadores do estado com relação ao governo de
centro-esquerda que estava se implantando.
Depois de muita pressão, Wilson resolveu ouvir o
partido. Antes da chegada ao governo, os
diretórios do PMDB tinham pouca serventia para os políticos, razão pela qual os
comunistas ocupavam, folgadamente e sem contestação, um terço das suas vagas do
diretório municipal da Capital
Em uma convenção informal tumultuada, Ludio disputando com
mais dois candidatos, saiu-se consagrado como o mais votado dos pretendentes,
com a ajuda decisiva dos comunistas.
Assim Ludio chegou, à Prefeitura em 1983. Como novo prefeito
teve uma dificuldade inicial para se se firmar, chegando a receber uma enorme
vaia no comício das diretas em 1984. Ao final do seu governo, estava consagrado
como um grande prefeito. Ficou conhecido por declarações e atitudes quase
folclóricas, pelas histórias que ele mesmo inventava e pelo uso da linguagem
popular. Seu chapéu de produtor rural, que não tirava da cabeça, virou seu
símbolo. A escolha de Wilson se revelou
acertada.
Seu governo foi de
grande influência do PCB, que indicou o seu secretário de obras José Eduardo
Tiberi, engenheiro do Dersul. Mas também indicou diversos outros quadros
técnicos não pertencente ao partido, que qualificaram o governo em áreas
estratégicas. Durante o seu governo o partido também tinha dois vereadores na
Câmara Municipal, Marcelo Martins e eu.
Esse período ficou
marcado pelo conflito que existiu entre a gestão Ludio e o setor de obras do
Governo Wilson, este dominado por concepções herdadas do “milagre brasileiro”,
de obras faraônicas. Dentro do próprio governo existiam outras secretarias e
lideranças que contestavam o grupo ligado ao Marcelo Miranda. A título de
exemplo, foi essa resistência que salvou nossos córregos urbanos da Capital do
envelopamento completo com concreto.
Mas, Ludio Coelho
tinha outros planos, queria ser governador do Estado. No PMDB o nome de Marcelo
Miranda já estava à postos para essa disputa, razão pela qual Ludio saiu do
partido e foi para o PTB. Nessa nova disputa, o PCB, que nacionalmente fazia
parte da Aliança Democrática (PMDB, PFL, PCB e PCdoB), saiu coligado com o
PMDB. A propósito, foi o senador Marco Maciel, em nome de Sarney, que interviu
junto a Marcelo Miranda para que fosse feita a coligação com os comunistas.
Foi uma disputa
selvagem. Para nossa surpresa Ludio começou a fazer uma cerrada campanha
anticomunista contra Marcelo Miranda. O velho fantasma ainda estava vivo. Nesse
contexto, minha campanha de deputado estadual ganhou tempo de TV
desproporcional. Parecia tempo de senador. Minha tarefa era chamar o Ludio de
ingrato. Não fui eleito deputado, afinal não era bom de voto, mas o velho e bom
Ludio Coelho também não conseguiu seu intento. Deve ter sido castigo pela
ingratidão.
Fausto Matto Grosso
Um comentário:
Está bem explicativo o seu livro.
Sucesso.
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