(Um livro escrito página a página)
FIM DE UM MANDATO
No ano de 1982, ainda
durante a ditadura, ocorreu a primeira eleição direta para governadores. Antes
disso, eles eram escolhidos por colégios eleitorais de exceção.
Naquele ano, houve
eleições para governadores, senadores, deputados federais e estaduais, e
vereadores. Nas capitais, então consideradas áreas de segurança nacional, os
prefeitos eram de livre indicação dos governadores de estado.
Em Mato Grosso do Sul,
foi eleito governador, Wilson Barbosa Martins, tendo como vice Ramez Tebet.
Para o Senado, foi eleito Marcelo Miranda , o PMDB elegeu quatro deputados
federais, e doze deputados estaduais, a metade das vagas em disputa em cada
Casa.
Para a Câmara
Municipal da capital, o PMDB elegeu 14 dos 21 vereadores, dando uma histórica
virada na política municipal. O quadro
partidário na época tinha claro perfil ideológico, oposição ou apoio à
ditadura.
O PCB, então abrigado
dentro da legenda do PMDB, tinha se preparado para essa disputa.
Organizadamente lançou dois candidatos o advogado Marcelo Barbosa Martins, de
sobrenome político ilustre (seu tio candidato a governador e seu pai, candidato
a deputado federal) e eu, engenheiro e
professor da UFMS. Sem grande vocação para a articulação política eu era,
dentro do partido, reconhecido como articulador orgânico, um organizador,
característica que o partido pretendia para sua organização na sociedade civil.
A campanha dos
candidatos do PCB era um projeto partidário. O trabalho foi inteiramente de
militância. O grupo de advogados, com Onofre Costa Lima Filho e Carmelino
Rezende à frente coordenou a campanha de Marcelo, agregando também grande parte
da nossa militância estudantil. A minha campanha teve a coordenação de Ricardo
Bacha e Nilson Theodoro de Farias. Custo pessoal praticamente zero. Chegou ao
ponto de o partido fornecer suporte financeiro pessoal, para que eu pudesse
abandonar meu trabalho profissional, que estava criando dificuldades para a
dedicação integral à campanha.
A eleição foi um
sucesso para o PCB, Marcelo ficou em terceiro lugar, com 4.473 votos e eu em
sétimo lugar com 2.275 votos em uma população três vezes menor que a atual. Em
proporção à população atual equivaleria hoje a uma votação três vezes maior,
cerca de 13 mil votos e 6.800 votos, respectivamente. O vereador mais votado de
Campo Grande neste ano de 2020 teve 6.200 votos, em um quadro de grande
pulverização partidária e individualismo político.
Nosso mandato de seis
anos foi destacado e mereceu grande reconhecimento público, o que me garantiria
reeleição considerada praticamente certa em 1988.
Coerentemente com a
nossa política nacional de frente democrática, planejamos sair coligado com o
PMDB, principalmente porque seu candidato seria Plínio Martins, um dos nossos
principais aliados. Tudo foi acertado com suas principais lideranças, inclusive
com o ex-Governador Wilson Martins. Eis que, nossa convenção já tendo decidido
pela coligação, foi surpreendida pela recusa da convenção peemedebista, de
coligação com o PCB. Tratava-se de uma rebelião dos candidatos à vereador do
PMDB, pois esta coligação garantiria um mandato para o PCB, uma vaga a menos
para o Partido.
Essa desarrumação
repentina nos levou à improvisação de uma candidatura própria de última hora.
Nosso candidato a prefeito Alan Pithan obteve menos de 1000 votos. Nossa chapa
de vereadores não atingiu o cociente eleitoral.
Muitos pemedebistas
gastaram décadas tentando nos explicar o inexplicável. Como resposta política
imediata, retiramos nosso companheiro Carmelino Rezende da Secretaria do
Trabalho de Marcelo Miranda. Nesse episódio, revelou-se um episódio de baixa
política, que manchou a importância histórica do PMDB. Enquanto pensávamos na
política nacional da transição democrática, aqui na província pensava-se em uma
vaga de vereador.
Fausto Matto Grosso
Um comentário:
Tempos distintos, lógica semelhante, muito legal Fausto estou lendo todas suas reminiscências, obrigado por compartilhar a história conosco!!
Ivan
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