(Um livro escrito página a página)
REATAMENTO COM CUBA
Durante a ditadura,
foram interrompidas as relações diplomáticas entre o Brasil e Cuba. Nos anos 1980, havia forte pressão de opinião
pública a favor do reatamento. Intelectuais, artistas e militantes políticos
começaram a assumir a visita à ilha, ao retornarem ao Brasil, causando
burburinhos nos aeroportos, como foi a detenção de Chico Buarque e do
dissidente comunista Davi Capistrano Filho, que viria a ser prefeito de Santos.
Trabalhava pela
aproximação entre os dois países, o diplomata cubano Sérgio Cervantes, que
atuava no Brasil nas relações comerciais, principalmente na área do café e do
açúcar, encarregado do Departamento de Américas do PC Cubano. Nesse período foi criada, no Rio de Janeiro,
a Associação Cultural José Martí que trabalhava pela aproximação cultural entre
os dois países.
Em 1983 essa
instituição organizou uma excursão político-cultural a Cuba, com cerca de
quinze pessoas. Minha mulher e eu engrossávamos o grupo. Cada um de nós levava
no colo um quadro para a Bienal de Havana. O meu era o de Cláudio Tozzi. Essa
viagem rendeu 11 artigos em jornal local, com intuito de divulgar Cuba e
incentivar a visita àquele país (http://faustomattogrosso.blogspot.com/1984/).
Após passar pela
estratégica Cidade do México, embarcávamos pela Cubana de Aviação com destino a
Havana. Chegamos à Ilha em 29 de dezembro de 1983, para a comemoração do 25º
ano da Revolução que ocorreria em 1º de janeiro de 1984.
Ciceroneados por
Sérgio Cervantes, que já nos aguardava, fomos recebidos com todas as atenções e
honrarias, especialmente os dois vereadores que compunham a delegação, eu, do
PCB, e o outro do MDB, o empresário Armando Raineri, de Marília, proprietário
das Massas Raineri. Recepções, palestras, contato com brasileiros, com direito
até a entrevista na Rádio Havana. O retorno também se deu pelo México.
No aeroporto de
Viracopos, tivemos que passar pela revista da Polícia Federal, de olho na
possibilidade de assumir a ida a Cuba, dentro do espírito de causar confusão.
Eu e minha mulher fomos sorteados para revista de bagagem. Ao perguntarem de
onde vínhamos respondi que de Cuba. O policial federal me perguntou o que eu
trazia, afirmei que só pequenas lembranças para presentes. Foi quando ele viu
bem em cima das roupas um belo álbum ilustrado com o título de “Educação e
Revolução”, que trazia para presentear o Secretário de Educação MS. Na
sequencia me perguntou o que eu transava educação ou revolução? Respondi que um
pouco de cada coisa. Nesse instante o policial que revistava outra mala gritou:
epa! aqui tem uma coleção completa das obras de Lênin. Pronto, estava tudo no
jeito para armarmos o barulho.
Entretanto o primeiro
policial me indagou se eu era de Campo Grande e se eu conhecia o Lúdio Coelho.
Ele disse que era “coelho pobre” da família dos Coelhos ricos e que trabalhava
ali para estudar na Unicamp. Disse que poderíamos passar sem problemas.
Já estávamos
embarcados no ônibus quando o “policial” que nos revistara estava saindo do plantão,
convenientemente vestido com uma camisa do PT. Estragou minha confusão.
Fausto Matto Grosso
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