IDH E FELICIDADE, NADA A COMEMORAR
Na semana passada, o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) divulgou o relatório
sobre o índice de desenvolvimento humano (IDH) de 189 países, obtido com dados
de 2019.
Ao longo da história
econômica, a ideia de desenvolvimento ou progresso quase sempre esteve ligada a
de crescimento econômico, daí a sua medição ter sido durante muito tempo o
estoque em ouro e metais preciosos e mais recentemente o PIB (Produto Interno
Bruto). Mas a produção de riqueza muitas vezes implica em externalidades como o
impacto ambiental e a distribuição desigual desta entre as pessoas. Além disso,
é imperfeita a correlação entre indicadores de renda e os padrões efetivos de
bem-estar da sociedade.
A partir dessa realidade é que surgiu o conceito de
desenvolvimento econômico e social no qual o IDH (Índice de Desenvolvimento
Humano) é um dos principais indicadores. Aí são consideradas três variáveis
principais: a saúde, a educação e a renda da população.
Complementarmente, o PNUD calcula também IDH-P que leva em
conta as emissões de CO2 e a pegada ambiental, o IDD (Índice de Desigualdade) e
o IDG (Índice de Desigualdade de Gênero) que pioram ainda mais a situação do
Brasil.
O relatório do IDH
deste ano foi construído com dados de 2019, ou seja, anteriores ao COVID-19. O
Brasil obteve o IDH de 0,765 (quanto mais perto de 1, melhor), crescendo 0,003
em relação ao ano anterior, o que caracteriza “crescimento lento”. Outros
países cresceram mais rapidamente, o que fez nosso país cair da 79ª para 84ª
posição. Ficamos para trás no contexto mundial. Nada pois a comemorar. O que
aconteceu neste ano de pandemia, segundo analistas, deve empurrar o Brasil
ainda mais para baixo. Lê-se no relatório que “A covid-19 pode ter empurrado
cerca de 100 milhões de pessoas para a extrema pobreza, o pior revés em uma
geração”.
O fraco desempenho do
Brasil deveu-se a falta de avanço na educação, a média de anos de estudos ficou
em apenas oito anos. A expectativa de vida e a renda per capita também
avançaram muito timidamente em 2019.
Tem surgido nos
últimos anos indicadores que melhor medem os resultados humanos do
desenvolvimento. Em 2011 a Assembleia Geral da ONU aprovou uma resolução
convidando os países membros a medirem a felicidade de seus povos e utilizar
esses indicadores na construção de suas políticas públicas, substituindo
oficialmente o indicador de produto interno bruto pelo da felicidade interna
bruta. O primeio-ministro do Butão presidiu a Assembleia, pois era o único país
que já adotava essa prática. De 2013 em diante começaram a ser produzidos
relatórios de acompanhamento.
Atualmente, a cesta de indicadores de felicidade bruta
inclui: PIB per capita real, assistência social, expectativa de vida saudável,
liberdade para fazer escolhas, generosidade e percepções de corrupção.
O ranking da felicidade é liderado por Noruega, Dinamarca,
Islândia, Suíça e Finlândia, construídas pelo projeto social democrata.
Iniciamos a participação do nosso país em 2012, em 25º lugar, em 2016 ficamos
em 17º posto. De lá para 2020, entretanto, a felicidade do brasileiro caiu
gradativamente. Hoje estamos em 32º lugar.
Segundo os autores do estudo, os motivos para isso foram os problemas
sociais e políticos, sobretudo a falta de generosidade e a corrupção, que
impactou "negativamente na sensação de bem-estar e de satisfação com a
vida" da população. Nem o futebol e o carnaval nos salvam.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro e professor aposentado da UFMS
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