O DIA SEGUINTE AO IMPEACHMENT
Ao longo da nossa história republicana já tivemos 38
presidentes. Oito deles eram vice-presidentes que assumiram em consequência de
mortes, renúncias, golpes ou impedimento dos titulares. São eles Floriano
Peixoto, Nilo Peçanha, Delfim Moreira, Café Filho, João Goulart, José Sarney,
Itamar Franco e Michel Temer. Preparemos então nosso espírito para um provável
governo Mourão, como prevê a Constituição no caso do impeachment de Bolsonaro.
É claro que o presidente e o seu vice são frutos da mesma
safra de 2018, como chama atenção o jornalista Élio Gaspari, mas um homem é ele
próprio e as suas circunstâncias. As novas circunstâncias são de falência do
país no plano econômico, social, sanitário e moral. É o Brasil à beira de um
precipício, isso pode mudar muita coisa.
Razões legais para o afastamento do atual Presidente, já
existem de sobra, fato que já começa a ser reconhecido em tribunais, principalmente
no contexto da crise sanitária. Acontece que o impeachment não é apenas uma
questão legal, mas sim uma decisão profundamente política. As diversas
pesquisas de opinião ainda apontam uma divisão forte da opinião pública,
rachada quase meio a meio. A tendência, entretanto é de crescer a força do
impeachment, por aprofundamento da crise de confiança. O governo do capitão
terrorista é desastroso no varejo e no atacado. Diante da pandemia, todas as
suas ideias e iniciativas estavam erradas, como chama a atenção o mesmo Élio
Gaspari.
Percebe-se, cada vez mais que Bolsonaro não tem condições de
encaminhar a solução dos nossos problemas. Governos que não conseguem resolver
problemas acabam sangrando e entrando em colapso. A sociedade não tem vocação
para o suicídio coletivo. Já existem mais de sessenta pedidos de impeachment na
Câmara, aguardando as condições políticas para o desenlace.
Está ficando cada vez mais claro que teremos pelo menos dois
anos de tempo ruim pela frente quanto à Covid-19 e a economia, mesmo com
sucesso da vacinação. A baixa confiança nesse governo vai erodindo sua base.
Sua capacidade de produzir crises desnecessárias é infinita.
O descontentamento cresce nas redes e nas ruas. A própria
base de apoio do Presidente na opinião pública começa a apresentar rachas, como
mostra o recente pedido de impeachment feito em manifesto assinado por 380
lideranças ligadas a igrejas cristãs, incluindo católicas, anglicanas,
luteranas, presbiterianas, batistas e metodistas, além de 17 movimentos cristãos.
Falta agora esse descontentamento refletir-se no Congresso
Nacional, onde o Presidente ainda se garante. Não se sabe por quanto tempo. O
parlamento, em situações de crise, costuma olhar o clima das ruas. Afinal todos
dependem de voto popular.
O impeachment amadurece, mas ainda é necessário que as forças
políticas e partidárias se entendam quanto ao futuro governo e a sua
governabilidade. A situação demanda um pacto político a respeito da transição.
É hora de cobrar juízo e ter prudência, nenhuma radicalização ajuda. Lembro que
a pressa política é má conselheira e atrapalha o amadurecimento do processo.
Caindo Bolsonaro quem, constitucionalmente, assume o poder é o general Mourão,
a não que alguém queira se lançar em aventuras perigosas.
Ninguém deve ignorar as lições da história. É preciso lembrar
que Itamar, antes do impeachment fez acenos à oposição e Temer chegou até a
anunciar um plano de governo. As forças
políticas não tem vocação para pular no escuro. Mourão tem que ser atraído por
essa ideia de ser parteiro de um novo governo de transição (mais um), com
governabilidade previamente garantida. Falta isso para juntar nova maioria no
Congresso.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro e professor da UFMS
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