EXILIO ILUSTRE PELA NOROESTE
(Este artigo será publicado no livro Histórias que ninguém vai contar)
A repressão mais cruenta da ditadura militar ao Partido
Comunista Brasileiro (PCB) não ocorreu de 1964, mas sim 10 anos depois, em 1974
e 1975. O governo militar já havia derrotado a luta armada e, pressionado pela
crise, começou o que chamava de abertura lenta, gradual e segura, com Geisel.
Para isso, tinha que enfrentar a esquerda que atuava na frente democrática
contra a ditadura fazendo a luta política. Era preciso extirpa-la para poder
abrir o regime de forma a não perder o controle.
Nessa repressão, além
da cassação de deputados ligados ao PCB, Nelson Fabiano Sobrinho e Marcelo Gato
abrigados no MDB, foram assassinados o jornalista Vladimir Herzog e o operário
Manoel Filho. Assassinaram também, mais de um terço dos membros do seu Comitê
Central. Nessa circunstância, sem poder conduzir a luta, dentro do Brasil, a
direção do Partidão resolveu retirar do país grande parte dos dirigentes
nacionais, enviando-os para o exterior. Cada um teve que montar seu esquema
próprio de saída do país, por suspeita de que o esquema de fronteira estava
infiltrado.
Salomão Malina era uma
dessas grandes figuras que tiveram que partir para o exterior. Ex-combatente da
Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, onde se alistara
como voluntário, já tendo sido condecorado, por sua bravura, com a Cruz de
Combate de Primeira Classe, a maior condecoração do Exército Brasileiro.
Malina, que já havia passado vários anos preso e já experimentara 35 anos na
clandestinidade, teve que se refugiar em Portugal. Anos depois, anistiado, foi
reformado como tenente-coronel do Exército.
A saída dele se deu
por Ponta Porã, em 1975, acompanhado de outro dirigente nacional, Givaldo
Siqueira. Contou com o apoio local do partido, especialmente de Onofre da Costa
Lima Filho, numa operação super-reservada. O esquema da sua retirada contou com
grande ajuda de comunistas paraguaios, entre eles Ricardo Grando e sua esposa
Dona Úrsula. O casal, refugiado no Brasil, era dono do conhecido restaurante
Gato Que Rí, em Campo Grande. Dona Úrsula simulou ser esposa de Malina, o que
ajudou a fazer a travessia da fronteira em Ponta Porã. O acesso a essa cidade
se deu pelo ramal ferroviário da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil numa rota
improvável que nunca era usada, por causa do tráfico de drogas.
Em seu retorno, depois
da anistia, Malina, agradecido, nunca deixou de visitar o casal, a cada vinda a
Campo Grande, da mesma forma que, como ex-pracinha visitava a sede da
Associação dos ex-Combatentes da Segunda Guerra.
Após sua saída do
Brasil, Malina, foi para a Argentina, depois
para a Colômbia onde os soviéticos o socorreram com documentos que lhe
permitiram o exilio europeu. Assentado em Portugal, perambulou por vários
países europeus onde os Partidos Comunistas conviviam em democracias. Malina
lia jornais em cinco idiomas. Um período em Moscou, como sensibilidade crítica,
ajudou a formar sua cabeça arejada que propiciou a transformação do PCB em
Partido Popular Socialista (PPS), tornando Roberto Freire seu sucessor. Trouxe
também o gosto pelo vinho verde, que muitas vezes compartilhamos em encontros
de boa conversa em São Paulo ou Brasília.
Fausto Matto Grosso
Um comentário:
Sangue do vó Fausto, não nega......
Postar um comentário