PROGRAMAS DE GOVERNO
Acabou-se
o tempo em que se podia fragilizar os adversários eleitorais,
dizendo que eles não tinham planos. Hoje os principais candidatos,
em quaisquer eleições majoritárias, exibem, em coloridos e
ilustrados cadernos, as suas propostas salvacionistas, redentoras da
vida dos cidadãos. Esse material se transforma, através da mídia,
em discurso eleitoral, principalmente na televisão.
Entretanto,
a grande questão, mais do que a necessária qualidade do programa, é
o fidelidade real que os candidatos têm com os compromissos que
anunciam à sociedade.
Planos
delegados a terceiros, a especialistas ou não, quase sempre são
peças de retóricas sem conseqüências. Os planos têm de ser
sempre a expressão combinada do que pensam os candidatos, com a
pregação dos partidos que representam. Por isso a necessidade de
os partidos terem também programas para valer.
Portanto,
o desafio do plano, mais do que técnico, é profundamente político.
A arte do programa é a combinação coerente das ideologias e
programas, dos partidos que se alianciam, com os estilos pessoais dos
candidatos, figuras essas centrais no estabelecimento dos vínculos e
dos compromissos com a população.
Programas
devem ser pactos políticos dos partidos entre si. Serem os
documentos que selam as alianças e que deverão ter o papel de
balizar a sua continuidade ou não. A solidariedade política futura
deve ficar condicionada ao seu cumprimento.
Devem
refletir o que pensam também os candidatos, seus principais
intérpretes e responsáveis pelo estabelecimento do pacto
político-social com a população. Os candidatos não devem apenas
representar, como se atores fossem, os programas e sim poderem olhar
nos olhos dos eleitores como a expressão mais assumida do que pregam
seus programas.
Elaborar
programas exige a arte de saber ler as aspirações da sociedade, nas
suas diversas manifestações. De envolve-la pela sua participação
direta ou de suas lideranças. Deve ter o condão de tira-la do
ceticismo, e faze-la acreditar no sonho possível, mas não se
limitar a isso. Fazer apenas o possível é obra dos políticos
medíocres. O desafio é o de tornar possível aquilo que é
necessário, só assim passaram para a história os lideres com
vocação de estadistas. Portanto, programas sem ousadia e sem uma
adequada dose de utopia não se prestam à política que pretende
resolver os graves problemas que hoje parecem sem solução.
A
administração futura deverá sempre tê-lo sobre a mesa para não
se esquecer da sua razão de existir. Rasgá-lo, na prática
administrativa corrente, deveria ser motivo para enquadramento na Lei
de Responsabilidade Política e Moral, como falta grave.
Falo
de Brasil sim, mas daquele que temos a responsabilidade de construir.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Engenheiro
Civil, professor da UFMS.
9
de maio de 2004.
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