GOVERNANÇA DE NOVO TIPO
Vivemos
nas últimas décadas um processo verdadeiramente revolucionário em
escala planetária. Trata-se da superação dos paradigmas da
sociedade industrial pelos novos ditames da revolução do
conhecimento e da informação.
Quantos
milhões de pessoas marcharam pelas ruas do mundo contra a eminente
Guerra do Iraque, sem seguir a nenhuma organização centralizada,
sem nenhum comando único. Quantos milhões de espanhóis foram às
ruas após o atentado de Madri e mudaram a rumo político do País,
num movimento cidadão. As fotos das torturas nas prisões
iraquianas, que hoje correm o mundo mobilizando a indignação
mundial podendo até mudar o curso da guerra, constituem outro
exemplo do novo contexto da globalização. Por trás de tudo uma
sociedade em rede, organizada pela comunicação on-line, pela
internet.
Vivemos
em escala global e local a criação de uma sociedade mais complexa,
onde os atores determinantes não são mais apenas o Estado, os
sindicatos e os partidos políticos. No jogo complexo com esses
atores tradicionais existem outros novos interlocutores ativos: as
organizações sociais, o terceiro setor, os conselhos de políticas
públicas, as instituições ambientalistas, as universidades, os
meios de comunicação, as empresas socialmente responsáveis, entre
outros.
Esta
realidade nova demonstra a existência de uma esfera pública que vai
além do Estado tradicional e lhe cobra uma radical transformação.
Apressar a emergência de um novo modelo de Estado é um dos maiores
desafios contemporâneo do pensamento progressista.
Não
há mais espaço para o Estado centralizado, já com alvará vencido,
e sim um Estado descentralizado em instâncias locais. Não mais o
Estado verticalizado pela figura do líder salvacionista e sim o
Estado horizontalizado pela participação cidadã. Não mais o
Estado fragmentado em setores ou níveis de governo mas sim o Estado
integrado em busca de maximização de resultados. Não mais um
Estado instrumental dos interesses econômicos dominantes e sim um
Estado finalístico voltado para o bem comum. Não mais um Estado
isolado e fechado, mas um Estado profundamente articulado com a
sociedade. Não mais um Estado rígido e burocrático mas um Estado
flexível, on-line, em rede e na internet.
Não
se pode pensar novas gestões municipais na atualidade sem essa visão
contemporânea. Há que se abrir à construção de novas formas de
governança social, democráticas, participativas e descentralizadas.
É necessário avançar na construção do que tem se chamado de
Poder Local.
O
Poder Local não é apenas o poder da Prefeitura, ou da Câmara, mas
ao poder dessas deve ser somado o poder da sociedade organizada.
Esse Estado ampliado deve, além dos atores tradicionais, envolver
novos atores reais da construção da vida da cidade: o Ministério
Público, o Judiciário, as instâncias públicas federais e
estaduais que atuam no município, a iniciativa privada, as
organizações sociais e entidades do terceiro setor, os conselhos
públicos territoriais, dos idosos, da saúde, da educação, as
universidades, os meios de comunicação entre outros.
Esta
é a base orgânica para a construção de cidades democráticas.
Cidades onde habitem cidadãos não apenas votantes, não apenas
beneficiários, não apenas reivindicantes, mas cidadãos com
autodeterminação, cidadãos gestores, participantes de uma
governança de novo tipo.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Engenheiro
Civil e Professor da UFMS
14
de maio de 2004
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