LIMITES E FRONTEIRAS
Na antiguidade, na época do Império Romano, não havia a noção
de limites, prevalecia a ideia de fronteiras. A fronteira era uma zona de
transição onde os povos interagiam com suas trocas culturais e econômicas.
Com o advento dos estados nacionais passou a ter sentido a
ideia de limites como término de um território. Nesse conceito prevalece ideia
de distância e separação. Já a fronteira movimenta a ideia de contato e
integração. Os limites são, portanto, assunto de domínio alta política ou da
alta diplomacia, já as fronteiras pertencem ao domínio dos povos, ou seja, são
um assunto local.
O Brasil é um país que teve limites antes de ter fronteira,
antes mesmo, de ter população. Nossa primeira linha divisória foi estabelecida
antes da nossa descoberta. O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494 na vila
espanhola de mesmo nome, determinava uma linha imaginária, a partir da qual
todos os territórios a leste, “descobertos ou a descobrir” pertenceriam ao
Reino de Portugal e aqueles a oeste pertenceriam à Coroa de Castela. Esse
limite caiu em desuso quando houve a União Ibérica (1580-1640). Neste momento,
tanto Portugal como suas possessões passaram a fazer parte da Coroa Espanhola,
o que propiciou que brasileiros avançassem para o oeste, com suas entradas e
bandeiras.
Avançando no tempo, nas últimas décadas, da globalização,
houve o enfraquecimento do poder dos estados nacionais e começaram a surgir de
territórios transnacionais integrados. A
União Europeia é a consagração dessa tendência.
Agora, passados 150 anos do término da Guerra da Tríplice
Aliança em 1870, é útil pensarmos nossa região na sua dinâmica passado,
presente e futuro bem como explorar novas abordagens territoriais. Atualmente,
temos no Brasil a definição de uma faixa de 150 km como faixa de fronteira,
temos até um Programa de Integração e Desenvolvimento desse território. Do lado
paraguaio também existe uma faixa de 50 km. Ambos os lados executam planos de
desenvolvimento, separadamente. Um não olha para o outro. Estão de costas
quando deveriam estar abraçados.
No interesse das populações fronteiriças estaríamos muito
melhor se unificássemos os dois territórios, em projetos de desenvolvimento
locais compartilhados, sob a liderança dos municípios. Isso seria útil na
prestação dos serviços de saúde, de educação, segurança, entre outros, que
reconhecessem realidades locais.
A realidade atual clama por uma nova abordagem dessa questão
fronteiriça. Ainda temos questões não bem resolvidas dos brasiguaios, dos
empreendedores brasileiros no Paraguai assim como de trabalhadores tidos como
estrangeiros nos locais onde realmente trabalham, nos dois lados da fronteira.
Para avançarmos no
enfrentamento dessas questões, talvez pudéssemos desenvolver a ideia da
construção de uma zona transnacional, institucionalmente integrada, onde se
poderia implantar um estatuto do cidadão de fronteira, com direitos e deveres
sociais, econômicos e políticos transnacionais. É uma ideia para discussão.
Esse poderia ser um caminho para facilitar a integração binacional
Brasil-Paraguai.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro, Mestre em Desenvolvimento Local e professor aposentado
da UFMS.
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