GORBACHOPP
(Esta crônica, será publicada no livro Histórias que ninguém vai contar)
Após o término da Segunda Guerra Mundial, o mundo restou
dividido em dois grandes blocos geopolíticos, o primeiro liderado pelos Estados
Unidos e o outro pela União Soviética. A Guerra Fria levou à instalação de dois
poderosos arsenais, capazes de destruir, várias vezes, a humanidade e tornou-se
imperiosa a luta pelo desarmamento. Buscando desarmar esse duelo mortal, no
início dos anos 1980, o líder soviético Mikhail Gorbatchov desencadeou várias
iniciativas em favor da paz, algumas delas unilaterais. Esse foi um dos seus
maiores feitos, que lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz em 1990.
Nesse período,
Gorbatchov viu crescer ainda mais o seu o prestígio mundial quando iniciou um
processo de reformas internas do socialismo, com a Perestroika (restruturação
econômica), a Glasnost (transparência) e a Uskorenie (aceleração do
desenvolvimento tecnológico). Entretanto, seu enorme prestígio no exterior não
correspondia ao apoio interno. Após uma tentativa de golpe de estado contra seu
governo, Gorbatchov acabou sendo afastado em agosto de 1991. Com 89 anos, o
ex-líder soviético, atualmente dirige, desde 1991, a Fundação Gorbatchov, e
desde 1993, a Cruz Verde Internacional.
No início da década de
1990, a juventude secundarista do partidão, homenageou-o, denominando
Gorbachopp, a um bar que colocaram para funcionar no fundo da sede partidária
em Campo Grande, com objetivo de finanças, mas também político. Surgiu aí um
importante ponto de encontro suprapartidário da esquerda, que marcou época. Não
só os jovens acorriam ao local, mas também vários intelectuais e dirigentes do
partido. Era o espaço de confraternização e de trocas políticas e culturais,
mas também ajudavam o crescimento partidário com a atração de novos
filiados.
O trabalho dos jovens,
liderado pelo organizador Orlando Rocha era pesado. Começava nas manhãs das
sextas feiras, no Supermercado Soares, onde eram feitas as compras. Como não
tinham carro, as coisas eram transportadas com o próprio carrinho do
supermercado e subidas por uma escada bem íngreme até ao primeiro andar. Daí, vinham
os preparativos das bebidas e dos petiscos, que incluíam pasteis,
churrasquinhos e outros petiscos, feitos pelos próprios jovens. Às 18 horas o
bar abria rigorosamente e começavam a chegar as pessoas para encontro e
confraternização, que se tornaram rotineiras. Era muita conversa descontraída e
rica politicamente.
O bar, montado no
sacadão da sede, era tocado pelos jovens, até a madrugada, quando começava o
fechamento das contas e a faina da limpeza.
Esse sacrifício, às
vezes, era atenuado quando o camarada Onofre comparecia. Invariavelmente
chegava com um bom uísque debaixo do braço, tomava a sua primeira dose e
entregava a garrafa para ser vendida em doses pelo bar. Era uma oportunidade de
se tomar um bom uísque a preços módicos. Mais, o que sobrasse do uísque, no fim
da festa, podia ser tomado de graça pelos jovens. Afinal, o penoso trabalho
revolucionário tinha que ter alguma compensação.
FAUSTO MATTO GROSSO
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