segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

 

GORBACHOPP

(Esta crônica, será publicada no livro Histórias que ninguém vai contar)

    

Após o término da Segunda Guerra Mundial, o mundo restou dividido em dois grandes blocos geopolíticos, o primeiro liderado pelos Estados Unidos e o outro pela União Soviética. A Guerra Fria levou à instalação de dois poderosos arsenais, capazes de destruir, várias vezes, a humanidade e tornou-se imperiosa a luta pelo desarmamento. Buscando desarmar esse duelo mortal, no início dos anos 1980, o líder soviético Mikhail Gorbatchov desencadeou várias iniciativas em favor da paz, algumas delas unilaterais. Esse foi um dos seus maiores feitos, que lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz em 1990.

  Nesse período, Gorbatchov viu crescer ainda mais o seu o prestígio mundial quando iniciou um processo de reformas internas do socialismo, com a Perestroika (restruturação econômica), a Glasnost (transparência) e a Uskorenie (aceleração do desenvolvimento tecnológico). Entretanto, seu enorme prestígio no exterior não correspondia ao apoio interno. Após uma tentativa de golpe de estado contra seu governo, Gorbatchov acabou sendo afastado em agosto de 1991. Com 89 anos, o ex-líder soviético, atualmente dirige, desde 1991, a Fundação Gorbatchov, e desde 1993, a Cruz Verde Internacional.

  No início da década de 1990, a juventude secundarista do partidão, homenageou-o, denominando Gorbachopp, a um bar que colocaram para funcionar no fundo da sede partidária em Campo Grande, com objetivo de finanças, mas também político. Surgiu aí um importante ponto de encontro suprapartidário da esquerda, que marcou época. Não só os jovens acorriam ao local, mas também vários intelectuais e dirigentes do partido. Era o espaço de confraternização e de trocas políticas e culturais, mas também ajudavam o crescimento partidário com a atração de novos filiados. 

  O trabalho dos jovens, liderado pelo organizador Orlando Rocha era pesado. Começava nas manhãs das sextas feiras, no Supermercado Soares, onde eram feitas as compras. Como não tinham carro, as coisas eram transportadas com o próprio carrinho do supermercado e subidas por uma escada bem íngreme até ao primeiro andar. Daí, vinham os preparativos das bebidas e dos petiscos, que incluíam pasteis, churrasquinhos e outros petiscos, feitos pelos próprios jovens. Às 18 horas o bar abria rigorosamente e começavam a chegar as pessoas para encontro e confraternização, que se tornaram rotineiras. Era muita conversa descontraída e rica politicamente.

  O bar, montado no sacadão da sede, era tocado pelos jovens, até a madrugada, quando começava o fechamento das contas e a faina da limpeza.

  Esse sacrifício, às vezes, era atenuado quando o camarada Onofre comparecia. Invariavelmente chegava com um bom uísque debaixo do braço, tomava a sua primeira dose e entregava a garrafa para ser vendida em doses pelo bar. Era uma oportunidade de se tomar um bom uísque a preços módicos. Mais, o que sobrasse do uísque, no fim da festa, podia ser tomado de graça pelos jovens. Afinal, o penoso trabalho revolucionário tinha que ter alguma compensação.

FAUSTO MATTO GROSSO



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