ENTRE VÓRTICES, CICLONES E CAVADOS
A política é como uma nuvem, ensinava Tancredo Neves. Em
política também existem ventos em altitude, sistemas de alta e baixa pressão,
vórtices, ciclones e cavados. Sem programa de governo, com governabilidade
instável e com precária capacidade de gestão, o governo Bolsonaro é pródigo em
produzir surpresas e instabilidades.
O capitão saiu das eleições municipais de 2020 como um grande
derrotado. Embora tenha adotado a tática de fingir-se de morto, os candidatos
por ele apoiados foram fragorosamente derrotados. Eram 13 e apenas dois se
elegeram. Entre os derrotados Crivella no Rio de Janeiro e Russomano em São
Paulo, bem representativos do obscurantismo bolsonarista. Os únicos eleitos
foram os prefeitos em Parnaíba no Piauí e Ipatinga em Minas Gerais.
As eleições municipais formam a base para as disputas nacionais,
portanto é importante levá-las em conta. O partido que ainda mais elege
prefeitos é o MDB que, de qualquer forma, pouco tem contado na política
nacional. No Centrão cresceram PP e PSD. Enquanto o PSDB teve grande derrota, o
DEM, de Rodrigo Maia, foi vitorioso com grande salto no número de
prefeitos. A esquerda e a cento-esquerda
saíram também derrotadas, apenas o Cidadania aumentou o número de seus
prefeitos.
As eleições dos presidentes da Câmara Federal e do Senado
também afetaram profundamente o rumo da política, um verdadeiro ciclone.
Bolsonaro que já perdera os olavistas e lavajatistas, enfim se entregou ao
Centrão, que prometera destruir. Com isso ganhou temporariamente uma blindagem
no Congresso contra o impeachment e impôs derrotas a dois prováveis
antagonistas, o DEM de Rodrigo Maia e ao PSDB de Dória, rachando-os de forma
humilhante. Como disse o senador Tasso Jereissati, “os partidos foram
triturados no Congresso”.
Para quem tinha dúvida, o livro-entrevista do General Villas
Boas revelou que os militares de alto escalão das Forças Armadas também estão
ativos no jogo político e conspiram nos bastidores. Ao mesmo tempo Bolsonaro
amplia a posse de armas e trabalha no sentido de transformar as polícias
militares em milícias bolsonaristas; planta ventos parecendo querer navegar em
tempestades, pescador de águas turvas que é. Isso demonstra como é frágil e
instável a democracia brasileira e que as possibilidades de retrocessos
autoritários ainda estão presentes na vida nacional. Um raio em céu azul é
sempre uma possibilidade.
É com esse alto grau de indefinição política que caminha o
processo eleitoral de 2022. Articulam também no Congresso mudanças na
legislação partidária e eleitoral. É o caso do fim das cláusulas de barreira e
a criação da federação de partidos, para atender demandas das pequenas
legendas. Também cogita-se a aprovação do distritão, sistema regionalizado de
voto em grandes distritos eleitorais, que valoriza o voto em chefes políticos
regionais.
Enquanto isso Bolsonaro vai se movimentando tentando ajustar
seu discurso para passar a impressão de que a estratégia continua sendo de
política econômica liberal, representada por Paulo Guedes; mas, no caso da
Petrobrás deu uma guinada populista e estatizante para agradar a sua base
eleitoral e consolidar o poder dos generais do Palácio do Planalto.
Nesse clima instável, o Presidente vai vagando com
iniciativas populistas, armamentistas e negacionistas para atender suas bases,
ao mesmo tempo em que faz chantagem à educação e à saúde, para viabilizar
recursos para o auxilio emergencial tão necessário.
Apesar disso, com as
pesquisas indicando sua aprovação no patamar de 30%, para a maioria dos
analistas, Bolsonaro deverá estar no segundo turno nas eleições presidenciais.
Falta saber quem estará com ele, quem vai encará-lo. Já estão na disputa Dória,
Hadad, Ciro Gomes, Huck, Boulos e ainda correm por fora, Moro, Mandetta e o
governador gaúcho Eduardo Leite. Muitas
outras candidaturas ainda poderão aparecer. Não se sabe qual delas prosperará,
qual terá capacidade de aglutinar uma frente ampla contra Bolsonaro, única
condição de derrotá-lo.
Candidatos não faltam, mas há que se avançar numa boa
articulação democrática e num programa mínimo com para tirar o país do buraco
em que se encontra.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiros e professor da UFMS
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