20 ANOS DEPOIS
Em artigo recente
relatei a elaboração do MS-2020 - Cenários e Estratégias de Longo Prazo para
Mato Grosso do Sul, vinte anos atrás, durante o governo Zeca do PT.
É natural que se
indague sobre os resultados dessa iniciativa. Deu certo ou não? Quais os
resultados atingidos? Vale a pena planejar o longo prazo?
O plano anunciava que
“em 2020 Mato Grosso do Sul será uma
sociedade integrada, com justiça social, alicerçada numa economia competitiva
em bases tecnológicas modernas e ambientalmente sustentáveis, num quadro
político de governabilidade e elevada competência gerencial”.
Apesar de termos
avançado em vários aspectos, esse não é o retrato atual de Mato Grosso do Sul.
Muito distante ainda estamos do que se pretendia. Há um déficit em inclusão
social, prosperidade econômica, sustentação ambiental, informação e
conhecimento, governabilidade e competência gerencial.
Nosso PIB deveria
atingir U$ 46 bilhões (equivalente ao Paraná na época); um PIB per capita de U$
11.754 (equivalente à Espanha na época); e um IDH de 0,930.
Na realidade, em
valores aproximados, atingimos um PIB de U$ 23 bilhões, a metade do pretendido;
um PIB percapita de U$ 8.533, cerca de 75% do previsto e nosso IDH é de 0,729,
muito aquém do que se pretendia.
O fato é que um plano
de longo prazo depende de variáveis sobre as quais não se tem controle, como o
contexto internacional e nacional. Por isso mesmo, o plano é apenas um ponto de
partida, o mais importante são seus ajustes racionais ao longo de sua
trajetória de avaliação e gestão.
O sucesso de um plano
de longo prazo depende também, da estatura dos governantes. Um plano não
consegue ser maior que seu líder (Matus). A palavra estratégia vem do grego, e
significa a exatamente a “arte do general”. A agenda do governador tem, pois,
que “dialogar” permanentemente com o Plano.
O MS 2020 não produziu
apenas uma agenda de projetos governamentais, mas também de ações dos agentes
econômicos e sociais. Um plano não é obra do acaso, é uma construção social
(Godet). Nesse sentido, o plano é uma ferramenta tecnopolítica e demanda a
confiança nos líderes e continuidade nas ações.
Os sucessivos governadores, após a elaboração do plano, não
cumpriram esses requisitos. A tradicional descontinuidade nos governos e as
diferentes visões sobre a importância do planejamento fizeram o Plano perder
centralidade. Essa é uma das razões da insuficiência de seus resultados.
Mas de qualquer forma,
a elaboração do plano representou um momento criativo. Foram feitas leituras
técnicas e políticas cuidadosas da nossa realidade, que influenciaram a pauta
na sociedade. Em todos os municípios do estado foram feitas oficinas com a
participação de lideranças locais. Sementes foram plantadas.
Assim, várias das
iniciativas apontadas no MS 2020, foram colocadas na agenda dos
sul-mato-grossenses. A transformação de Dourados em uma cidade universitária,
isto se materializou; o fortalecimento econômico da Costa Leste pela vantagem
locacional e incentivos fiscais está acontecendo; e o aumento da
competitividade da agropecuária e do turismo da mesma forma.
O pólo
minero-siderúrgico, o pólo gás químico, a saída para o Pacifico, a ferrovia
para Dourados, o fortalecimento do eixo industrial Campo Grande – Três Lagoas
continuam na ordem do dia. Da mesma forma a agenda de meio ambiente,
desenvolvimento social e qualidade de vida.
Sistematizando uma
resposta para as questões colocadas inicialmente, apesar da insuficiência dos
resultados, valeu a pena ter feito o MS 2020. Os planos não se esgotam em si,
porque constituem um importante momento de aprendizado da sociedade.
O desafio da
construção do futuro é árduo. Como disse Eduardo Galeano, a utopia está lá no
horizonte, quando me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho
dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais o
alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de
caminhar.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Ex-
Secretário Estadual de Planejamento, Ciência e Tecnologia de MS
2 comentários:
Fausto, nessa época não morava mais em MS, mas esse plano teve uma ampla divulgação na sociedade ou ficou restrito aos órgãos de governo?
Foram feitas oficinas participativas com as lideranças em todos os municipios do estado
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