20 ANOS ATRÁS
Vinte anos atrás,
nosso estado viveu um momento de ineditismo. Pela primeira vez, após a
redemocratização, foi eleito um governador de esquerda no Brasil. Tratava-se de
um momento de esgotamento da política tradicional que aqui vinha opondo
pedrossianismo e peemedebismo. Venceu a eleição um improvável candidato, José
Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, liderando uma frente eleitoral com o
PT, PDT, PPS, PSB e PCdoB, que contou com o apoio de Pedrossian no segundo
turno.
Para conquistar e manter o poder, ensina a
teoria política, são necessários dois predicados: a liderança intelectual e a
liderança moral. A moral tinha sido
atribuída pelas urnas recém-conquistadas. Era necessário apenas alongar o seu
prazo de validade. Para o desafio da construção da liderança intelectual, era
necessário construir um programa político, amplamente agregador, para promover
a coesão do novo bloco político formado na sociedade.
Esse foi o papel
atribuído ao Plano MS 2020 – Cenários e Estratégias de Longo Prazo para Mato Grosso
do Sul.
Cenários são
fotografias, possíveis, do futuro. São obtidos por combinações de hipóteses
sobre as incertezas. Servem para orientar a tomada de decisões no presente,
tendo em vista um futuro desejado.
Em 1999, foram
desenhados quatro cenários possíveis para MS em 2020. O Cenário Vôo do Tuiuiú tinha como idéia
força o desenvolvimento com integração na economia global, apoiado em um
projeto social-liberal; o Cenário Piracema de desenvolvimento com inclusão
social como resultado de um projeto social-reformista; o Cenário Rapto do
Predador, caracterizado pelo crescimento excludente, resultante de uma política
liberal; e o Estouro da Boiada, caracterizado por instabilidade e crise
econômica, social e ambiental, o pior dos mundos, resultado de uma
descontinuidade crônica de projeto político.
Os quatro cenários
foram submetidos à análise de suporte político da sociedade. O Vôo do Tuiuiú
tinha apoio majoritário dos atores sociais. O Piracema era o com segundo maior
apoio. Vivíamos nacionalmente a hegemonia do PSDB de Fernando Henrique, mas
aqui fora vencedora uma coligação de esquerda. Estava posto o dilema da
governabilidade e da responsabilidade política. A opção foi a escolha de uma
visão de futuro, construída a partir dos pontos convergência entre esses dois
cenários de maior aprovação.
Nosso horizonte
utópico, ou visão de futuro foi definida como: “Em 2020 Mato Grosso do Sul será uma sociedade
integrada, com justiça social, alicerçada numa economia competitiva em bases
tecnológicas modernas e ambientalmente sustentáveis, num quadro político de
governabilidade e elevada competência gerencial”. Assim foi definido destino a
ser perseguido, afinal, como ensinava Drucker “a melhor maneira de prever o
futuro é criá-lo”.
A partir dessa visão
de futuro, foram definidas as opções estratégicas, as macro-prioridades, os
objetivos e estratégias. Consolidando essas orientações, foi elaborada uma
Carteira de Projetos.
Em complementação, o
plano estratégico foi rebatido em oito regiões de planejamento com seus
respectivos planos estratégicos regionais, submetidos ao controle de oitos
Conselhos Regionais de Desenvolvimento. A elaboração do Plano MS 2020 passou
por cada um dos 75 municípios existentes na época.
No primeiro governo
Zeca, o MS 2020 foi uma espécie de cartão de visitas, principalmente quando se
falava para investidores, para embaixadores, para visitante ilustres e até
quando se falava no exterior. A
propósito, em uma reunião com empresários em São Paulo, o ex-presidente da
FIESP, Mário Amato, que havia ameaçado ir para o exterior no caso de uma
eventual vitória de Lula, para surpresa geral, afirmou que se o PT fosse o
governador de MS, ele o apoiaria para a presidência da República.
Mas, nem tudo eram
rosas. No interior do próprio governo o MS 2020 não era tão unânime assim. Com
o fim da aliança política do primeiro governo, o Plano acabou perdendo muito do
seu patrocínio.
FAUSTO MATTO GROSSO
Ex- Secretário Estadual
de Planejamento, Ciência e Tecnologia de MS
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