quinta-feira, 12 de dezembro de 2019


20 ANOS DEPOIS


  Em artigo recente relatei a elaboração do MS-2020 - Cenários e Estratégias de Longo Prazo para Mato Grosso do Sul, vinte anos atrás, durante o governo Zeca do PT.
  É natural que se indague sobre os resultados dessa iniciativa. Deu certo ou não? Quais os resultados atingidos? Vale a pena planejar o longo prazo?
  O plano anunciava que “em 2020  Mato Grosso do Sul será uma sociedade integrada, com justiça social, alicerçada numa economia competitiva em bases tecnológicas modernas e ambientalmente sustentáveis, num quadro político de governabilidade e elevada competência gerencial”. 
  Apesar de termos avançado em vários aspectos, esse não é o retrato atual de Mato Grosso do Sul. Muito distante ainda estamos do que se pretendia. Há um déficit em inclusão social, prosperidade econômica, sustentação ambiental, informação e conhecimento, governabilidade e competência gerencial.
  Nosso PIB deveria atingir U$ 46 bilhões (equivalente ao Paraná na época); um PIB per capita de U$ 11.754 (equivalente à Espanha na época); e um IDH de 0,930.
  Na realidade, em valores aproximados, atingimos um PIB de U$ 23 bilhões, a metade do pretendido; um PIB percapita de U$ 8.533, cerca de 75% do previsto e nosso IDH é de 0,729, muito aquém do que se pretendia.
  O fato é que um plano de longo prazo depende de variáveis sobre as quais não se tem controle, como o contexto internacional e nacional. Por isso mesmo, o plano é apenas um ponto de partida, o mais importante são seus ajustes racionais ao longo de sua trajetória de avaliação e gestão.
  O sucesso de um plano de longo prazo depende também, da estatura dos governantes. Um plano não consegue ser maior que seu líder (Matus). A palavra estratégia vem do grego, e significa a exatamente a “arte do general”. A agenda do governador tem, pois, que “dialogar” permanentemente com o Plano.
  O MS 2020 não produziu apenas uma agenda de projetos governamentais, mas também de ações dos agentes econômicos e sociais. Um plano não é obra do acaso, é uma construção social (Godet). Nesse sentido, o plano é uma ferramenta tecnopolítica e demanda a confiança nos líderes e continuidade nas ações.
Os sucessivos governadores, após a elaboração do plano, não cumpriram esses requisitos. A tradicional descontinuidade nos governos e as diferentes visões sobre a importância do planejamento fizeram o Plano perder centralidade. Essa é uma das razões da insuficiência de seus resultados.
  Mas de qualquer forma, a elaboração do plano representou um momento criativo. Foram feitas leituras técnicas e políticas cuidadosas da nossa realidade, que influenciaram a pauta na sociedade. Em todos os municípios do estado foram feitas oficinas com a participação de lideranças locais. Sementes foram plantadas.
  Assim, várias das iniciativas apontadas no MS 2020, foram colocadas na agenda dos sul-mato-grossenses. A transformação de Dourados em uma cidade universitária, isto se materializou; o fortalecimento econômico da Costa Leste pela vantagem locacional e incentivos fiscais está acontecendo; e o aumento da competitividade da agropecuária e do turismo da mesma forma.
  O pólo minero-siderúrgico, o pólo gás químico, a saída para o Pacifico, a ferrovia para Dourados, o fortalecimento do eixo industrial Campo Grande – Três Lagoas continuam na ordem do dia. Da mesma forma a agenda de meio ambiente, desenvolvimento social e qualidade de vida.
  Sistematizando uma resposta para as questões colocadas inicialmente, apesar da insuficiência dos resultados, valeu a pena ter feito o MS 2020. Os planos não se esgotam em si, porque constituem um importante momento de aprendizado da sociedade.
  O desafio da construção do futuro é árduo. Como disse Eduardo Galeano, a utopia está lá no horizonte, quando me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais o alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.

FAUSTO MATTO GROSSO
Ex- Secretário Estadual de Planejamento, Ciência e Tecnologia de MS


2 comentários:

Jose Augusto Guedes disse...

Fausto, nessa época não morava mais em MS, mas esse plano teve uma ampla divulgação na sociedade ou ficou restrito aos órgãos de governo?

Fausto Matto Grosso disse...

Foram feitas oficinas participativas com as lideranças em todos os municipios do estado