PACTO E CONSTITUIÇÃO
Não existem soluções fáceis para problemas difíceis. Vivemos um impasse nas relações entre o executivo, o legislativo, o STR e a sociedade.
Recentemente surgiu,
pelas mãos do presidente do Supremo, a idéia de um pacto entre as partes em
conflito. Sempre que há uma ruptura
institucional, o que não aconteceu, há necessidade de um novo entendimento
nacional para estabelecer uma nova ordem. O Brasil já fez isso com o grande
pacto constitucional em 1988, construído com a participação ampla da sociedade.
Na sociedade, vivemos
hoje um sentimento de indignação e de insegurança. Na política, predomina o
clima de confronto. A economia patina, o PIB começa a decrescer e o desemprego
aumenta. As estruturas sociais e as relações pessoais se esgarçam e a violência
torna-se banal. Apesar disso o povo está na rua e nas redes, o que é um bom
sinal da vitalidade da vida democrática. Nunca foi tão intenso o interesse pela
política e a participação do cidadão comum.
Os principais
problemas vêm do próprio presidente. Legitimamente eleito pelo voto, Bolsonaro
não consegue governar. Falta-lhe programa, um ministério qualificado,
capacidade de articulação política e liderança na sociedade.
A sua “revolução
conservadora” se assenta, principalmente, nos quatro cavaleiros do Apocalipse,
os olavistas Weintraub (Educação), Ernesto Araújo (Relações Exteriores),
Ricardo Salles (Meio Ambiente) e Damares Alves (Mulher, Família e Direitos
Humanos). A cada dia surgem novas
maldades, principalmente contra a inteligência.
Dentro do próprio
governo, o clima é de beligerância, disputas e desconfianças. A autofagia é a
regra, gerando constante instabilidade e paralisia administrativa.
Desde a campanha,
Bolsonaro usa a hostilidade como método de disputa. Recusa-se a dar adeus às
armas. Recentemente, postou na rede uma dramática mensagem, dizendo ser
impossível governar com o Congresso Nacional e suas práticas. Ora, esse
problema só tem duas soluções: renúncia ou o fechamento do Congresso. Nesse
clima foi convocada uma manifestação de rua, à qual o presidente acabou não
comparecendo, num recuo tático.
O resultado prático foi transformar seu
principal aliado na Reforma da Previdência, Rodrigo Maia, em “pixuleco”. A
hostilidade como método de governo tem levado o Presidente a derrubar pontes e
a diminuir sua governabilidade.
O Congresso que aí
está, a despeito dos seus conhecidos problemas, é tão ou mais legítimo que o
Presidente, pois se Executivo representa é maioria, o Legislativo é totalidade,
é o campo da política e da negociação, sem a qual a democracia não sobrevive.
Apesar dos conflitos o
legislativo vem encaminhando as questões suscitadas pelo Governo Bolsonaro. A
votação da Previdência já tem data marcada, escoimadas as maiores aberrações do
projeto. A reforma administrativa já foi votada e aprovada, o pacote
anticorrupção está esperando na fila. Dentro das regras democráticas, a
política não está parada. Só não está funcionando o rolo compressor que
governos sempre tentam fazer em cima do Congresso.
O Supremo já teve
melhores dias, mas andou perdendo prestígio na população, por excesso de
disputas internas e de exposição midiática. Sempre se espera dos juízes
atitudes sóbrias. Agora sofre nova deslegitimação, com o esdrúxulo protagonismo
político de seu presidente, pelo “pacto”.
A disputa real tem
dois contendores centrais: o executivo e o legislativo. É desejável que se
mantenham independentes e harmônicos, sem o cabresteamento do Legislativo pelo
Executivo. Caberá à opinião pública pressioná-los, ambos, a cada dia, diante
das ações nefastas que surgirem. Não será fácil, diante do programa de
maldades, que Bolsonaro desenvolve a cada dia, mas esse será o caminho dos democratas.
Que cada um cumpra os
seu dever. O pacto que serve aos brasileiros é o da Constituição de 1988, sem
aventuras nem quebra da legalidade.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro Civil e professor aposentado da UFMS
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