MANIFESTAÇÕES DAS UNIVERSIDADES
Não foram poucas as
críticas que já fiz às Universidades, mas todas elas tinham destino certo e
revelavam uma posição de quem queria mais delas, não menos.
Os ataques do Governo
Bolsonaro às Universidades têm a intenção de amesquinhá-las. Revela puro “viés
ideológico”, revanchismo, arrogância e despreparo dos últimos ministros da
Educação. Acusam-nas de serem locais de “balburdia” e de “gente pelada".
Em entrevista, o ministro Abraham Weintraub disse que sobrava dinheiro para
“fazer bagunça e evento ridículo” - quando a verdadeira bagunça se dava no MEC,
com o jogo político dos troca-trocas das cadeiras.
Discricionariamente,
ameaçaram de redução do orçamento da UnB, da UFF e da UFBA. Pilhados nessa
situação arbitrária e esdrúxula, anunciaram a extensão do contingenciamento de
verbas para todas as Universidades Federais.
Um fato que contraria
a argumentação de Weintraub é que as três universidades citadas são bem
avaliadas, tanto no Brasil quanto no exterior. Todas têm nota cinco, o valor
máximo no desempenho do Índice Geral de Cursos (IGC) do próprio MEC.
Sei perfeitamente
diferenciar contingenciamento de recursos, de corte de verbas. Sou capaz,
também, de identificar os irresponsáveis que levaram as finanças públicas do
País ao atual descalabro. Mas, como diz o ex-Reitor da UnB professor José
Geraldo de Sousa Junior “O governo não pode usar o fundamento público de gestão
do orçamento para ações de represália, de castigo. Isso é desvio de finalidade.
O MEC não é feitor das Universidades. Se tiver algo errado, tem de abrir
inquérito e investigar. A estratégia encoberta é criminosa. É um crime de
responsabilidade”.
Essa medida do Governo
ainda foi acompanhada da promessa de medidas contra os cursos da área de
ciências humanas e cobrança de ensino. Em convocação na Câmara dos Deputados, o
ministro ainda apontou como natural a intervenção de forças policiais nos campi
universitários o que afronta uma das mais caras tradições democráticas, a da
autonomia da Universidade, garantida no artigo 207 da Constituição.
Como resultado de mais
uma ação desastrada do MEC, na semana passada, em 170 cidades, incluindo todas
as capitais, as ruas se encheram de protestos contra o arrocho na educação.
Dando mais um tiro na própria testa, desde os EUA, Bolsonaro sentenciou que as
manifestações eram coisas de "imbecis" e "idiotas úteis"
usados como "massa de manobra".
Por certo, havia entre
os manifestantes militantes políticos de diversos movimentos, o que demonstra a
grande amplitude do apoio à educação, também faixas inconvenientes e
esdrúxulas, isso faz parte da democracia. Mas, milhares de manifestantes, de
crianças a idosos, não tinham ligação com siglas e compareceram em participação
espontânea que lembraram os protestos de 2013, quem sabe, antecipando a
primavera.
De certa forma, tudo
isso já era esperado desde a campanha eleitoral. Agora que o governo patina na
produção de resultados positivos na economia, o que vemos é o avanço na pauta
do obscurantismo. A ofensiva contra a Universidade era questão de tempo. Se na
respeitável Academia das Agulhas Negras ensinassem filosofia e sociologia,
Bolsonaro não estaria tendo que alugar sua cabeça para um astro-porno-filósofo
da Virgínia.
O fato é que vivemos
um quadro de autoritarismo e de obscurantismo. O pior, isso acontece em um
momento em que o Governo precisa desarmar os espíritos, pois muita coisa está
em jogo na política e na pauta do Congresso Nacional. Espero que o Presidente
não esteja querendo, voluntariamente, incluir sua fotografia na galeria dos
nossos presidentes breves, junto com Jânio Quadros, Color e Dilma Russef. Mais
uma crise não faria bem ao País.
Na semana passada,
voltando da manifestação me veio à cabeça uma linha do tempo. Há quase 50 anos,
minha geração de 1968 também lutava nas ruas contra a ditadura e em defesa da
Universidade. É inegável, as ditaduras e os regimes autoritários têm raiva da
inteligência, tem nojo do espírito crítico, prefere o silêncio dos cemitérios e
os aplausos dos bajuladores acríticos.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro e professor aposentado da UFMS
Nenhum comentário:
Postar um comentário