VAI UMA EMENDINHA AÍ?
No início deste mês, a
toque de caixa e por iniciativa própria, o Congresso Nacional aprovou a PEC do
Orçamento Impositivo. Esse dispositivo tornou obrigatória a execução das
emendas parlamentares de bancadas, aquelas indicadas por acordos dos parlamentares
de cada estado. Foi uma das primeiras derrotas do Presidente Bolsonaro no
Congresso. Em 2015, durante o governo Dilma, já havia sido tornada obrigatória
a execução de emendas parlamentares individuais.
É sabido que as
emendas de bancadas, por acordo interno, são divididas, posteriormente, entre
os deputados para uso político ou de outra natureza. Mesmo sendo obrigatórias,
o Governo tende a só liberá-las nas ocasiões de votações importantes no
Congresso, como moeda de troca.
Tal situação tem sido
rotineira, mas alguns casos são exemplares. Em 1993, estourou o escândalo dos
“anões do orçamento” e em 2006, o da máfia das ambulâncias. Em 2014, a Presidente Dilma, pilhada
em “malfeitos”, distribuiu emendas para tentar livrar-se da acusação de crime
de responsabilidade e do impeachment, embora sem sucesso. Em 2017, para
livrar-se da acusação de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução
da justiça o Presidente Michel Temer distribuiu a parlamentares, cerca de R$
32,1 bilhões de emendas e outras concessões, segundo o jornal O Estado de São
Paulo.
Agora é a vez do
Presidente Bolsonaro. Para a aprovação da reforma da previdência, estariam
prometidos pelo governo R$ 40 milhões em emendas, para cada deputado, em troca
de votos, segundo Jornal A Folha de São Paulo, citando ministro Onyx Lorenzoni
e lideranças partidárias. Vai ter que cumprir isso, goste ou não goste, afinal
é o Congresso eleito pelo povo brasileiro.
Emendas parlamentares
deformam as prioridades e fragmentam as políticas públicas, reforçam o
clientelismo de eleitores e instituições, bem como são brechas para os mais
espúrios casos de corrupção.
Estudo acadêmico, em
2010, realizado com dados do Programa de Fiscalização da CGU, demonstrou a
existência de forte relação entre emendas parlamentares. Municípios que
receberam recursos de emendas parlamentares apresentaram, em média, 25% mais
episódios de corrupção.
Durante as campanhas
eleitorais, “nossos representantes”, costumam dizer que “vão trazer dinheiro de
Brasília”. A partir daí, grande parte deles joga quase toda a sua energia para
a encarniçada batalha pelas emendas, mediante as quais se estabelece um jogo
espúrio e imoral entre o Executivo e o Legislativo.
Durante a execução
dessas emendas o escândalo é ainda maior.
Elas têm “donos” e, segundo a praxe, estes ficam com o direito de cobrar
“pedágio” para que esse dinheiro chegue até a obra aprovada. Em muitos casos,
são as próprias empresas executoras que as propõem. Esse é o reino do baixo
clero, a Sapucaí da política brasileira, já exposta nos inúmeros escândalos do
Congresso.
Ou os parlamentares
não sabem para que serve um deputado, ou é, descaradamente, uma confissão
antecipada da velhacaria da política. A
prática da emenda parlamentar tem sido um dos recantos mais escuros e malcheirosos
da política.
A análise e aprovação
do orçamento deveria ser a atividade mais importante e qualificada do
Parlamento, o coroamento do processo legislativo, mas não tem sido assim.
É necessário jogar luz
nesse assunto. Isso é importante até para que políticos íntegros e bem
intencionados, imagino que eles existam, possam escapar desse lodaçal.
Marco Túlio Cícero
advogado, escritor, considerado o maior dos oradores e pensadores políticos
romanos, eleito cônsul em Roma em 63 a.C. já alertava: “o orçamento nacional deve
ser equilibrado. As dívidas devem ser reduzidas, a arrogância das autoridades
deve ser moderada e controlada. Os pagamentos a governos estrangeiros devem ser
reduzidos se a nação não quiser ir à falência. As pessoas devem, novamente,
aprender a trabalhar, em vez de viver por conta pública”.
Fausto Matto Grosso.
Engenheiro Civil e professor aposentado da UFMS
14.06.2019
Nenhum comentário:
Postar um comentário