Fausto Matto Grosso: "Esquerda e direita"
Nas
eleições deste ano, principalmente nos debates nas redes sociais,
toda e qualquer crítica ao PT e à sua candidata Dilma Rousseff era
acusada de “coisa da direita”. Chegaram assim a acusar, com tais,
Marina Silva e Aécio Neves e todos os seus partidos de apoio. A
primeira questão que se coloca é da validade dos conceitos de
esquerda e direita na atualidade. Esse tipo de questão tornou-se
mais comum após a crise do socialismo real, quando muitos começaram
a acreditar que o capitalismo triunfante seria o ponto final da
civilização e a história teria, então, acabado.
Uma
das mais consagradas análises a respeito da questão é a do
pensador italiano Norberto Bobbio. Para o autor tais termos, que
fazem parte do imaginário da sociedade e da identidade dos atores
políticos, são absolutamente pertinentes. Ressalta ainda que esses
termos são “antitéticos”, ou seja, não se pode ser ao mesmo
tempo de esquerda e de direita.
Esquerda
é aquele que assume que a ideia de que a igualdade é condição
para a liberdade e a direita pressupõe que a liberdade é a condição
da igualdade. Bobbio, considerando esse parâmetro reparte o espectro
político dos partidos, em quatro posições: extrema esquerda
(simultaneamente igualitários e autoritários); centro-esquerda
(simultaneamente igualitários e libertários); centro direita
(simultaneamente libertários e inigualitários) e extrema-direita
(simultaneamente antiliberais e antigualitários).
Ressalta
ainda o autor que os termos direita e esquerda podem representar
diversos conteúdos conforme o tempos. Assim, na Revolução Francesa
a burguesia e a pequena-burguesia, na luta pela igualdade, contra o
feudalismo, eram forças de esquerda, que se assentavam no lado
esquerdo da Assembleia Nacional, dai a origem das designações
esquerda e direita. Quanto ao aspecto histórico, uma boa
referência para a análise é a Segunda Internacional ou
Internacional Socialista (1889-1916) uma organização dos partidos
socialistas e trabalhistas, criada por influência de Friedrich
Engels.
Entre
seus membros estava o Partido Operário Social-Democrata Russo
(POSDR). Cabe informar aos amigos petistas, “radicais, porém
sinceros”, que Lênin liderou a Revolução Russa exatamente com o
POSDRb, só depois, isolado no contexto pós-Segunda Guerra Mundial,
surgiu a Terceira Internacional e o poderoso Partido Comunista da
União Soviética.
Trinta
e cinco anos depois, em 1951, resurge a Internacional Socialista (IS)
que busca a divulgação e implementação do socialismo democrático
através da união de partidos políticos social-democratas,
socialistas e trabalhistas. A IS é uma das maiores organizações
partidárias em atividade. Entre seus mais notórios dirigentes,
figurou Willy Brandt (1976-1992) que através da sua “ostpolitik”
buscou a aproximação com o bloco comunista. Esse processo resultou
no degelo político leste-oeste e teve como consequência o
reconhecimento de Gorbatchov, de que, comunistas e sociais-democratas
eram partidos do mesmo tronco histórico, portanto partidos irmãos.
Da
Internacional Socialista, como membro pleno, participa hoje apenas o
PDT. O PT flerta com ela, na condição de observador e o PSDB, ao
buscar sua filiação, foi vetado por influencia sectária de
Brizola, não por conta da sua doutrina, mas por conta de sua aliança
com o PFL.
Resumindo
a história, feliz o país que teve, desde a redemocratização, à
exceção da aventura Collor, apenas candidatos competitivos de
centro-esquerda, o PSDB, o PT, o PSB e o PPS. A direita foi
escorraçada, pelo processo democrático, só tem figurado, como mero
coadjuvante em todas, e em cada uma, das candidaturas
presidenciais. O resto é ranço autoritário, estreiteza de
projetos hegemonistas de poder, críticas de quem tem, ainda, um pé
na visão de partido único da esquerda.
Fausto
Matto Grosso é engenheiro e professor da UFMS
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