O REENCONTRO DA ESQUERDA DEMOCRÁTICA
Neste mês de dezembro, foi anunciada a criação de um Bloco Parlamentar na Câmara dos Deputados composto pelo PSB, PPS, PV e o Solidariedade. Juntos esses partidos possuem a segunda maior força política no parlamento, 67 deputados, somente menor do que a bancada do PT com 70 deputados. Essa articulação nacional é o embrião de uma Federação entre esses partidos que deverá ser rebatida nas esferas estaduais e municipais, na interlocução com a sociedade e com os movimentos sociais.
A
aproximação atual entre PPS e PSB não fortuita, pois ao longo da
história brasileira esses partidos protagonizaram, no mais das
vezes, ações convergentes que dão sentido ao projeto político que
recomeçam a construir.
Em
1927, formamos o “Bloco Operário e Camponês” que em 1930,
lançou o primeiro operário à Presidência da República, o
vereador do PCB, Minervino de Oliveira.
Diante
da ascensão do fascismo no mundo, em 1935 formamos, junto com outras
forças democráticas, a Aliança Nacional Libertadora, que chegou a
ter 1.600 diretórios organizados em todo o país. Os socialistas
defenderam sua transformação em partido político, mas precipitação
radical do PCB, liderado por Prestes, levou à decretação da
ilegalidade da ANL. Isolado, o PCB tentou a improvável insurreição
armada, duramente esmagada. Embora discordantes, os deputados
socialistas no Congresso Nacional, tomaram a frente na denuncia da
Lei de Segurança Nacional, duramente aplicada contra os comunistas.
Essa postura levou à cassação prisão do deputado socialista João
Mangabeira.
Com
legalização em 1945, o PCB lança a candidatura presidencial de
Yedo Fiuza. Os socialistas, organizados na Esquerda Democrática se
aliaram com o a oposição liberal, integrando-se à UDN que lançou
o Brigadeiro Eduardo Gomes. Ambos saem derrotados por Eurico Gaspar
Dutra.
O
PSB é reorganizado em 1947 e buscou se diferenciar do PCB por
críticas ao modelo soviético, propondo um socialismo democrático e
pluralista. Em 1947 o PCB é cassado e entra os anos 50 na
ilegalidade e isolado, com uma política estreita, de
extrema-esquerda, que só vai se alterar a partir de 1958, com
ruptura com o stalinismo e a adoção do compromisso com a via
democrática.
Apesar
dessas diferenças, nova convergência entre o PCB e o PSB foi a
constituição da Frente do Recife, a partir de 1947, que logrou
eleger Arraes, em 1960, prefeito de Recife e, posteriormente
Governador de Pernambuco, posição onde se encontrava quando do
Golpe de 1964.
PSB
e PCB voltam a se reencontrar durante a resistência democrática.
Ambos apontam o caminho da Frente Democrática contra a ditadura e
participam, mesmo na ilegalidade, da fundação do MDB. Em 1974, no
contexto da eleição indireta, o MDB lançou a “anticanditatura”
à Presidência da República de Ulisses Guimarães e do socialista
Barbosa Lima Sobrinho, e ajudou na formação de uma forte bancada de
161 deputados peemedebistas.
Derrotada
a campanha pelas “Diretas já”, o PMDB participa da eleição
indireta, contra Maluf, elegendo, no Colégio Eleitoral, Tancredo
Neves e José Sarney. No governo Sarney, em 1985, o PCB conquista a
sua legalidade e o PSB se reorganiza com líderes como Antônio
Houaiss, Evandro Lima e Silva, Jamil Haddad e Evaristo de Moraes
Filho, entre outros.
Na
Constituinte de 1986 os dois partidos, embora com pequenas bancadas
PPS (3) e PSB (6) tiveram uma expressiva participação no bloco de
centro-esquerda. Juntaram forças contra o mandato de cinco anos para
Sarney e a favor do parlamentarismo.
Nas
eleições de 1989, quando a disputa se faz contra Collor, o PSB
participa da Frente Brasil Popular em torno do Lula e o PCB, após a
candidatura presidencial de Roberto Freire, vai se juntar nessa
articulação somente no segundo turno.
No
Governo Collor, Evandro Lins e Silva, fundador do PSB participou da
comissão de juristas responsável pela elaboração do pedido e
impeachment, cabendo ao socialista Barbosa Lima Sobrinho,
representando a ABI, entregar esse documento à Câmara dos
Deputados.
Os
dois partidos participam do Governo Itamar, um virtual momento
“parlamentarista” de salvação nacional. Freire foi líder do
Governo na Câmara dos Deputados e os socialistas Haddad (Saúde) e
Houaiss (Cultura) participaram do Ministério, apoiando o lançamento
do Plano Real, para o enfretamento da inflação. Em 1993 no
plebiscito, ambos compõem a Frente Parlamentarista.
Nas
eleições de 1994, o PPS, sucedâneo do PCB, e o PSB participam da
coligação em torno de Lula, derrotado no primeiro turno por
Fernando Henrique Cardoso.
A
partir daí, fruto da disputa de projetos de poder, o Brasil passa a
viver a polarização PT x PSDB. Essa divisão do campo de
centro-esquerda levou a um sistema político onde, cada um por sua
vez, esses dois partidos tivessem que governar em alianças com a
direita e o atraso fisiológico.
Assim
chegamos a 2014, com PSB e PPS, no campo da oposição, articulando
um projeto alternativo, primeiro com Eduardo Campos, depois com
Marina Silva. Esse é o momento que Roberto Freire chamou de
“reencontro da esquerda democrática”.
O
Bloco da Esquerda Democrática, surgido dessa articulação, que
incorpora, também, a contemporaneidade da pauta do PV e a base
sindical da Solidariedade surge com o desfio de “contribuir de
forma efetiva para o fortalecimento das instituições democráticas,
resgatar as boas práticas republicanas e promover as mudanças que o
povo exige para que o Brasil volte a crescer e melhorar a qualidade
de vida dos brasileiros”.
O
Bloco se apresenta, assim, como um importante polo para a aglutinação
de uma grande quantidade de quadros progressistas que se acham
ausentes, ou dispersos na política brasileira.
FAUSTO
MATTO GROSSO.
Engenheiro
e professor aposentado da UFMS
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