Fausto Matto Grosso: "Herança maldita e cleptocracia''
Em
2003, após três tentativas frustradas, Lula assume pela primeira
vez a Presidência da República. Enfim, chega ao poder para cuidar
do que chamou de “herança maldita”, deixada por FHC, mera
retórica da política de polarização e de “construção do
inimigo”, já que, inclusive deu continuidade a sua política
econômica. Nada mais parecido com Malan do que Pallocci e
Meirelles.
Em
2014, passados 12 anos e três governos do PT, a candidata Dilma
continuou brigando com o passado, fazendo política pelo retrovisor.
Disputando a eleição sem programa de futuro, venceu por
estreita margem de votos - e se considerarmos os 27,44% abstenção,
votos brancos e nulos – recebeu apoio de menos de 40% dos
eleitores.
Presidente
legitimamente eleita, mas fraca para assumir, em um país dividido, a
sua própria “herança maldita”. Herdou, de si própria, um país
em profunda crise econômica, política e moral. Foi a única
presidente, depois da redemocratização, que entregou o governo com
indicadores da economia, piores do que recebeu.
A
economia em crise, ameaça até os avanços sociais conseguidos nos
últimos 25 anos, prenunciando dias difíceis para a população,
atingida diretamente pela inflação e pela previsível volta do
desemprego, resultado natural do crescimento pífio da economia.
As
taxas de crescimento e de inflação fogem das metas, mostrando o
completo descontrole de gestão, apesar da “contabilidade
criativa”. Ingressamos no terreno pantanoso da estagflação. A
isso o governo responde com falsificações e manipulações de
informações, que humilham órgãos de longos anos de prestígio
técnico, levando crise ao interior destes, como aconteceu com o IPEA
e com o IBGE.
As
contas públicas não fecham. O Brasil entrou no “cheque especial”,
ou seja, para o clube de pagadores das dívidas com juros mais altos.
Ao não cumprir os limites da Lei de Diretrizes Orçamentárias o
governo tenta alterá-la no Congresso. Simples assim – não cumpre
a lei, quer muda a lei.
No
aspecto político, a herança de Dilma também é “maldita”. O
presidencialismo de coalizão entrou em crise com a rebeldia da base
governista, principalmente do PMDB, que reage ao hegemonismo petista.
Apesar do tamanho da sua bancada, o aliado teve no governo apenas
três ministérios, diante dos 20 controlados pelas diversas
tendências do PT. O “custo PMDB” ficará cada vez mais caro
quanto mais se acentuar o tamanho da crise de legitimidade da
Presidente, sendo que esta, cercado pelos escândalos de corrupção,
fica mais impotente para conseguir manter o sistema tradicional de
cooptação por amor comprado.
A
radicalização da disputa presidencial turvou ainda mais o ambiente
político. O país por conta do marketing eleitoral de desconstrução
do adversário, primeiro Marina, depois Aécio, encontra-se
profundamente dividido. Por sua vez, o PT, em um completo autismo
político, cobra da Presidente uma maior radicalização, tentando
organizar uma restrita frente de esquerda para a sua sustentação.
No
aspecto moral, o governo está no chão. Dilma, logicamente, sabia
dos subterrâneos da Petrobras, tanto que afastou diretores indicados
por Lula, mas não apurou seus “mal feitos”. Era a criatura
protegendo o criador, o presidente “mais probo” que esse país
jamais conheceu. Na verdade, o grande líder e grande gênio que
transformou o “modo petista de governar” em um novo regime de
governo, a cleptocracia.
Após
o alucinado desvario durante a campanha, quando qualquer crítica à
política do governo era atacada como coisa de direita, agora sim,
Dilma e o PT vão saber quem é, de fato, a direita.
Alimentaram
a fera, agora ela, raivosa e fortalecida, cheia de razão, está se
mostrando nas ruas querendo o diálogo da “degola” da Presidente.
Fausto
Matto Grosso. Engenheiro e professor da UFMS
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