TERRORISMO E CULTURA DE PAZ
Passados
os dias, os massacres de Paris, cada vez mais, se tornam emblemáticos
dos desafios que a humanidade vive nos tempos atuais.
Os
massacres despertaram reações de grande conteúdo emocional,
instigadas e pasteurizadas pela comunicação da sociedade de massas.
Inicialmente, o mote era a defesa da liberdade de imprensa e a
sagração dos mortos como seus mártires.
Ato
contínuo o presidente francês, aproveitando para se recuperar da
baixa popularidade, respondeu com a ampliação da presença militar
francesa no Oriente Médio. Também a direita francesa e européia,
xenófoba e intolerante mobilizou suas multidões apontando para o
chamado “choque de civilizações”: o pensamento islâmico seria
incompatível com os valores culturais do ocidente. Marine Le Pen
declarou: “a nação foi atacada, a nossa cultura, o nosso modo de
vida. Foi a eles que a guerra foi declarada”, apontando para a
segregação e o apartheid.
Já
no mundo muçulmano, da Chechênia ao Afeganistão, da Argélia à
Palestina, explodiu a indignação contra o desrespeito a sua cultura
religiosa. No Níger chegaram a incendiar 45 igrejas cristãs
causando 10 mortes. Essas manifestações continuam nos dias atuais e
são a senha para a radicalização do mundo islâmico, contra o
ocidente.
Diante
da radicalização, o papa Francisco clamando pela moderação e pela
responsabilidade foi incisivo: “Não se pode ofender, ou fazer
guerra, ou assassinar em nome da própria religião ou em nome de
Deus. Você não pode provocar e insultar a fé dos outros, você não
pode zombar da fé. Não se pode fazer das religiões dos outros um
brinquedo”. Enfático afirmou: “Se xingar minha mãe, espere um
soco”, disse o Papa sobre ataque em Paris.
A
grande pergunta é onde vamos parar com esse tipo de confronto onde
todos têm razão. Minha convicção é que esse conflito não se
resolverá pelas armas. Por essa via não haverá vencedores, pois é
um permanente jogo de perde, perde. Diante dessa situação de
completo contrassenso, é que evoco a lembrança da Guerra Fria e de
como ela foi desarmada.
Lembro-me
de Gorbatchov dizendo que apesar de todas as contradições
existentes, de toda a diversidade de sistemas políticos e sociais,
de todas as diferenças de escolhas feitas pelas nações, o mundo
era uno. Ressaltava “estamos no mesmo barco, a Terra, e não
podemos permitir que ele se afunde, não haverá uma segunda Arca de
Noé”.
É
esse tipo de responsabilidade moral que se espera dos líderes
mundiais, a partir dos 50 que compareceram à marcha de Paris. O
Ocidente tem a principal responsabilidade na saída dessa crise,
porque é o lado mais forte e também por que não pode se arriscar
em uma nova guerra do Vietnã, em um mundo globalizado e fragmentado,
com a exacerbação do individualismo. A propósito, lembro que o
Vietnã venceu os EUA dentro da sua própria casa. O povo americano,
clamando pela paz, desarmou a sanha do Império, o que destaca o
grande papel que pode ser representado pela opinião pública.
A
solução dos impasses nessa guerra com o terrorismo, não é fácil,
mas tem que ser buscada, em nome da humanidade. Acredito que o
desarmamento dessa armadilha está nas mãos das potências
ocidentais e que a solução dessa guerra passa por uma política
internacional. Imagino que a partir da pluralidade representada
pelos 50 líderes presentes em Paris, incorporando outros de
lideranças incontestes, como o Papa e seus equivalentes das diversas
religiões e apaixonando amplamente a sociedade se possa buscar uma
saída. Precisa que, a partir dos principais fóruns internacionais,
se possa adotar iniciativas que passem pela delimitação do Estado
Palestino e pelo controle dos rentáveis negócios das armas, do
petróleo e da terceirização das guerras, mas principalmente aponte
para o desafio principal que é a construção de uma nova, forte e
universal Cultura de Paz.
Fausto
Matto Grosso
Engenheiro
e professor aposentado da UFMS
Jornal
da Cidade - 08/02/2015
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