EM DEFESA DA POLÍTICA
Das
múltiplas facetas da crise brasileira, a mais perigosa é a da
descrença da política como meio de enfrentar os desafios do País.
Em
pesquisa recente sobre a democracia na América Latina, feita pela
ONU, 56% da população acha o desenvolvimento econômico mais
importante do que a democracia, 54,7% apoiaria um governo autoritário
se este resolvesse os problemas econômicos e 36% concorda que o
Presidente não leve em consideração os Partidos e o Congresso.
Esse
quadro perigoso e preocupante chama a atenção para a imperiosa
necessidade de recuperar a confiança na política como meio
civilizado de resolver conflitos e problemas, mas também exigem
intervenções profundas que modifiquem a maneira com se faz política
no Brasil atualmente.
A
Reforma Política é a mãe de todas a reformas, a que deveria ter
merecido prioridade. Um processo verdadeiro de mudanças deveria
começar por ela, pelo potencial que tem de mobilizar a opinião
política da cidadania para a solução dos problemas.
Existe,
entretanto, um paradoxo que se constitui numa dificuldade real para
as mudanças. Anos e anos de prática dessa política tradicional,
hoje desacreditada, criou na cidadania um sistema de crenças em
falsas premissas, que não permite que se enxergue para além desse
sistema político que está em crise.
É
o caso, por exemplo, da crença de que o mais importante é votar no
candidato e não no partido. Para ficar apenas nas últimas
eleições, em 2002 foram registradas candidaturas de 88 deputados
federais, apenas 8 foram eleitos. Somando os votos desses candidatos
constata-se que 54% dos eleitores não lhes destinaram votos, ou
seja, a maioria da população não escolheu seu deputado. Os votos
dados aos perdedores ajudam a somar números para a legenda,
quantitativo esse que vai definir, pela regra da proporcionalidade, a
participação de cada partido na bancada, ou seja, votando em
candidatos estamos, na verdade votando em listas partidárias
"abertas”, sem termos uma percepção muito clara disso.
Mais
ainda, no Congresso, na maior parte dos casos, esses deputados não
votam e são representados ou orientados pelos votos das lideranças
dos partidárias. Nas questões decisivas, os partidos “fecham
questão” unificando partidariamente os votos.
Trocando
em miúdos, na democracia representativa, quem faz a política são
os partidos e não os parlamentares individualmente. Vem daí a
necessidade de tornar esse jogo claro e fazer a cidadania optar
conscientemente pelo conjunto de idéias em que acredita e que julga
representativa dos seus interesses.
A
Reforma Política que se encontra tramitando no Congresso cria o
sistema de listas partidárias “fechadas” para substituir o atual
sistema de listas “abertas”. Neste último caso, são eleitos os
mais votados da lista, nem sempre os mais representativos da política
partidária que praticarão e sim aqueles que dentro de cada partido
conseguem montar uma maquina eleitoral mais poderosa.
Prevalecendo
a proposta das listas fechadas, proposto pela Reforma, todos os
cidadãos terão a condição de escolherem a política que desejam
ver praticada. A lista fechada, tira a falsa ilusão criada pelo
voto no indivíduo, avança a educação política da população e
fortalece os partidos, sem os quais não existem pratica democrática
nos marcos do nosso estágio civilizatório atual.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Engenheiro
Civil, Professor da UFMS
25
de abril de 2004
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