DESAFIOS
Tantos
quantos de nós receberam visitantes nos últimos tempos devem ter
ouvido elogios à nossa cidade. De alguns, inclusive, a referência
à semelhança com Curitiba.
Campo
Grande encanta seus visitantes, principalmente porque só costumamos
mostrar-lhes o lado bonito da cidade.
Mas
levantamentos de opinião feitos por Universidades locais mostram,
também, que há um reconhecimento generalizado sobre o trabalho de
todos nossos prefeitos das últimas três décadas. O povo, muitas
vezes, lhes cita as obras e os feitos.
O
Plínio Martins, do primeiro plano diretor. O Mendes Canale, da
Infraestrutura do Bairro Amambaí. O Levi, da canalização da
Maracajú, das melhorias do São Francisco e do uniforme dos
escolares. O Marcelo Miranda, das obras no Santo Amaro. O Lúdio
Coelho, do asfaltamento das linhas de ônibus, da integração do
transportes e da Leste-Oeste. O Juvêncio da Fonseca, da Planurb e
da Norte-Sul. Ultimamente, o mesmo reconhecimento é dado a André
Puccinelli, realizador de portentosas obras de Infraestrutura.
Não
somente obras realizaram esses prefeitos, mas estas constituíram,
sempre, a face mais visível da suas administrações. Campo
Grande de hoje é, portanto o fruto do empreendedorismo de todos
eles, cada qual, pensando a cidade a partir de sua visão pessoal.
Com
esse acúmulo parece não ser muito difícil administrar Campo
Grande, pelo menos em termos convencionais. A cidade está
relativamente bem estruturada, a Prefeitura arrecada bem, o próximo
prefeito, provavelmente, estará com seu futuro político assegurado.
Mas
há um grande salto a ser dado atualmente que é o de fazer a cidade
a partir da visão coletiva da cidadania. Há que se construir um
projeto de cidade que ultrapasse os mandatos e a visão pessoal dos
mandatários. A cidade não lhes pertence. Mudanças realmente
profundas exigem compromissos de continuidade que só um processo
mais coletivo pode garantir. Qualquer peão que construa cerca sabe
que esta não pode ser feita colocando-se um poste depois do outro,
sem balizamento de um poste a longa distância.
A
democratização da gestão pública, para acolher a visão de tantos
quantos constroem a cidade, é um imperativo e um desafio para quem
pretende governa-la com visão contemporânea. A cidadania
organizada e participante é a condição para que a cidade seja
pensada independentemente dos mandatos e dos mandatários e,
portanto, possa enfrentar problemas estruturantes, de maior
significado e envergadura.
Alguns
desses problemas saltam aos olhos.
Nossa
cidade deve crescer indefinidamente para ser uma grande metrópole
ou deve buscar uma estabilização que permita o desenvolvimento
sustentável? Dentro dessa ótica, como deve ser sua relação com
as cidades vizinhas, polarizadas pela capital? Não estaria na hora
de pensar Campo Grande como região metropolitana integrada com os
municípios lindeiros?
No
âmbito da democracia participativa que papel devem ter os vários
conselhos regionais e setoriais? Tais conselhos, existentes em grande
número, no geral, têm baixíssima efetividade, como melhorar esse
quadro?
Na
área social, quais os níveis desejáveis e factíveis de
desenvolvimento humano a serem perseguidos pelos programas e projetos
que as diversas administrações forem criando? A criação do
Índice de Desenvolvimento Humano Municipal – IDH-M, calculado pelo
IPEA/PNUD, serve exatamente a esse propósito e cria uma base para a
avaliação, objetiva e independente, da responsabilidade social das
administrações. Com publicização dessa informação a cidadania
estará melhor protegida dos balanços ufanistas e propagandistas que
os governantes fazem de si mesmos.
Transformar
Campo Grande de uma cidade bonita que cresce, numa cidade que se
desenvolva com qualidade de vida crescente muito orgulhará o
campo-grandense ao mostrá-la, por inteira, aos nossos futuros
visitantes.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Engenheiro
Civil e professor da UFMS
18
de abril de 2004
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