UM PROFESSOR CONTRA A UNIVERSIDADE
As
Universidades Federais estão paradas. Nunca um movimento grevista
conseguiu, entre nós, tamanha abrangência. Todas as 52 instituições
de ensino superior do sistema federal aderiram à paralisação.
Mesmo
em algumas delas, como é o caso da UFMS, a adesão não sendo total,
não diminui a importância do movimento. Seguramente a maior parte
dos que assim procedem, não o fazem por satisfação com a nossa
situação atual, mas sim por não depositarem nenhum crédito na
sensibilidade do governo FHC.
A
greve atual é um grito de resistência da Universidade brasileira
contra a sua humilhação, destruição e extinção.
Triste
fim. A eleição do professor Fernando Henrique Cardoso, por certo,
despertou grande expectativa nas Universidades. Afinal seu rico
currículo acadêmico e político assim o justificava. Passados
menos de 4 anos, o presidente , que viaja o mundo recebendo
homenagens de instituições estrangeiras, talvez seja, nas
Universidades, o mais desacreditado presidente das últimas décadas.
Afinal,
ao ser empossado, ele mesmo pediu que esquecessem o que já tinha
escrito. Repudiar, repentinamente, idéias antes defendidas, tudo em
nome da nova aliança conservadora, é inaceitável em uma
instituição que se dedica a produzir idéias e utopias . Foi seu
primeiro gol contra.
A
política universitária desenvolvida a partir daí foi de
humilhação, terrorismo e falta de respeito.
Três
anos sem reajuste salarial reduziram pela metade o já aviltado nível
salarial e de vida dos professores e técnicos . O resultado disso é
a desesperança e o desestímulo. A Universidade, que deveria ter
condições de selecionar e manter os mais competentes quadros da
sociedade, hoje, é empurrada para a mediocrização.
O
terrorismo feito em torno da reforma da previdência jogou para fora
das instituições públicas de ensino um enorme contingente dos
mais titulados professores. Gente na qual o dinheiro público foi
investido durante décadas foi cair, de graça, no sistema privado.
Tudo isso poderia ter sido evitado se, em vez de anunciar iminente
perda de direitos, fossem criados incentivos à continuidade na
atividade acadêmica. Um governo que se pretende moderno teria
necessariamente tal política.
Para
completar o serviço, o governo do professor Cardoso não permite a
reposição, em nível adequado, das vagas geradas pelas
aposentadorias. Sem autorização para abertura de concurso, as
Universidades vem sendo obrigadas a contratar, em número
insuficiente e a título precário, professores substitutos. Isso
está gerando uma situação profundamente desigual, injusta e
inaceitável no aspecto acadêmico. Tais professores pagos por
prestação de serviço, dedicam-se apenas às aulas sem poderem
participar de atividades de pesquisa, de extensão e de qualificação
docente que completam, na essência, a missão constitucional da
Universidade. O governo FHC implantou o sistema de bóia-frias no
ensino superior público.
Corte
de verbas, corte de bolsas, semeadura de desesperanças. Por aí
vai o professor Fernando Malvadeza. Com seu discurso modernizador e
a sua prática de destruição do patrimônio universitário
brasileiro produzido, a duras penas, com trabalho de muitas décadas,
por professores, cientistas, pensadores que jamais mandariam
esquecer aquilo que escreveram e sonharam.
FAUSTO
MATTO GROSSO,
Engenheiro
civil e professor universitário. Presidente do PPS/MS
14/05/98
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