DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO
Poucas
coisas chocam tanto os sul-mato-grossenses como a descontinuidade
administrativa. Acostumada a ver o poder ser ocupado,
alternadamente, pelo pedrismo e pelo anti-pedrismo conservador, nossa
gente assiste a cada quatro anos as prioridades mudarem, as obras
pararem, as armadilhas serem armadas para o sucessor, o dinheiro
público se perder e tantas outras irresponsabilidades
administrativas.
Alguém
já definiu que estadista é aquele que governa pensando nas próximas
gerações e não apenas nas próximas eleições. Nesse sentido tem
faltado aos governantes de Mato Grosso do Sul a estatura de
estadistas e o compromisso democrático.
Comportam-se
como se não tivessem plano algum de longo prazo. Se os têm, a
sociedade deles não toma conhecimento e não participa.
Recentemente,
a Petrobrás, preocupada com os seus investimentos no gasoduto,
patrocinou ao Governo do Estado uma importante consultoria para a
elaboração de um estudo de cenários de Mato Grosso do Sul para o
ano 2010. Desse trabalho resultaram importantes diretrizes
estratégicas, saudadas com entusiasmo por todos que tiveram acesso
ao documento. Infelizmente nenhuma iniciativa foi tomada visando
transformar tais indicações em ação governamental.
A
arrojada tentativa da sociedade civil sul-mato-grossense em intervir
nessa discussão, através do Fórum MS, acabou se desestruturando,
pela completa insensibilidade do Governo diante da possibilidade
dessa interlocução.
Entretanto
esse deve ser o caminho. O futuro de Mato Grosso do Sul deve ser
definido pela participação da sua sociedade civil e os governos e
governantes serem simples executores dessa vontade coletiva
construída em consensos pluralistas e democráticos. Dessa maneira
os governos, transitórios que são, passarão e, sucessivamente,
adicionarão iniciativas construtoras de um projeto de longo prazo.
Esse
é o exemplo que tem sido dado, nos últimos anos, pelo Ceará. Após
o enfrentamento e a derrubada do poder dos coronéis, a nova elite
cearense, da qual fazem parte Tasso Jereissati e Ciro Gomes,
organizou o chamado "Pacto de Cooperação do Ceará".
Essa articulação das forças vivas da sociedade cearense construiu
de um projeto de longo prazo que está na raiz do atual processo de
desenvolvimento da região. Pensou-se grande, com um horizonte de 25
anos.
As
ameaças - sol e pedra - foram transformadas em oportunidades. O sol
virou fruticultura e indústria turística. A pedra virou
exportação de mármore e granito. As cadeias produtivas foram
desamarradas e seus gargalos resolvidos um a um. Foi atribuído um
papel claro a cada agente de desenvolvimento, inclusive para as
Universidades da região.
O
resultado é que o Ceará, um Estado dos mais miseráveis, de uma
região das mais miseráveis do Brasil, começou a ganhar prêmios
internacionais pelas seus resultados na área da saúde, da infância
e pela melhoria de todos os seus indicadores sociais.
Esse
processo hoje, praticamente, independe de quem governa o Estado. A
dinâmica implantada na sociedade não admite reversão das metas
construídas em parcerias democráticas e consolidadas.
Esse
é um exemplo a ser seguido. Que o próximo governo de Mato Grosso
do sul seja escolhido pela capacidade de liderar um processo
semelhante de desenvolvimento sustentável democraticamente.
FAUSTO
MATTO GROSSO
Engenheiro
civil e professor universitário. Presidente do PPS/MS
19/05/98
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