(Construindo um livro pagina a página)
AS ARMAS DO PARTIDÃO
Durante muito tempo,
as forças de segurança procuraram descobrir o poderoso arsenal do Partidão. Na
verdade, isso não existia. Desde 1958, quando fizemos nosso acerto de contas
com o stalinismo, passamos a adotar a concepção de via democrática para o
socialismo.
A propósito, nosso vereador
Rádio Maia, em Campo Grande, nos anos 70, foi peremptório quanto à questão.
Depois de algum tempo preso, mandou chamar o capitão que pronto chegou para as
anotações. Um tremendo gozador foi dizendo que não sabia das nossas armas, mas
que sabia de outras. Começou então a declamar os Lusíadas: “As armas e os
barões assinalados, Que da ocidental praia Lusitana,...
Muitos anos depois
durante uma reunião na fazenda do camarada, Onofre, em Indubrasil, reparei duas
whinchesters enfeitando a parede, velhas e enferrujadas. Argumentei que seria
só para o caso de uma eventual autodefesa e saí de lá com as duas debaixo dos
braços. Limpas, engraxadas, faziam inveja a qualquer colecionador.
Quando vereador do
PCB, andei andando com um Taurus 38, de cano médio, dentro da pasta. Meu receio
era sofrer alguma tentativa de humilhação por parte de algum reacionário, pela
minha condição partidária. Logo isso também se tornou desnecessário, e
misteriosamente o 38 sumiu durante a Campanha do Desarmamento, sob o olhar cumplice
entre minha esposa e meu irmão caçula.
Portanto, o buraco de bala na enorme mesa de
reuniões, nas sedes do PCB, não ocorrera por nenhum episódio que tivesse sido
de nossa iniciativa. Não devo dar maiores detalhes, por respeito ao envolvido.
Mas naquele episódio, simbolicamente, nosso camarada se bastou de uma máquina
de escrever Remington atirada contra a pistola militar 45 de seu agressor.
Venceu a civilização.
Fausto Matto Grosso
3 comentários:
Duas Winchester velhas, um 38, Os Lusíadas e uma máquina de escrever... O poder de fogo é pífio, mas certamente não é com essa régua que se mede o valor desse relato... Muito bom, Fausto!
Conheci um camarada do PCB MS que não desgrudava de sua máquina de escrever. Creio que hoje porte um notebook. Sem querer parecer retrógrado ou conservador, com certeza, no episódio do 45, a máquina de escrever foi mais útil. E as Winchester devem estar bem conservadas. Boas lembranças, Fausto!
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