A Amazônia, o Cerrado
e o Pantanal já começam novamente a arder em chamas. Os incêndios de 2019, além
das perdas econômicas e ambientais, queimaram irremediavelmente a imagem
internacional do País. O que foi feito de
lá para cá para diminuir nossa vulnerabilidade? Uma das últimas notícias a
respeito foi a intervenção do Presidente querendo punir os servidores que
queimaram as máquinas e equipamento dos garimpeiros e desmatadores ilegais.
Corremos o sério risco
de assistirmos, daqui para frente, a superposição da crise política com o
coronavirus e os incêndios florestais.
Os temas sociais,
ambientais e sanitários parecem mesmo estar ligados. A pandemia do coronavirus,
pela diminuição da atividade humana, gerou uma série de efeitos colaterais
positivos no meio ambiente. Ao diminuir o tráfego de automóveis e as atividades
industriais, diminuiu a poluição ao redor do mundo, como mostram imagens de
satélites.
Em Veneza, os canais voltaram a ter águas
cristalinas e peixes. Na Índia, um dos países mais poluídos do mundo, o
Himalaia passou a ser visto de cidades a mais de 200 km de distância,
recuperando situação de três décadas atrás. Na China, segundo a NASA, imagens
de satélites, mostraram um declínio expressivo nos níveis de poluição,
principalmente na região de Wuhan, onde se impôs o mais drástico isolamento
social.
Essas realidades, em
pequena escala, mostram cabalmente que, controlando a ação do homem, pode-se
conseguir fazer uma gestão de risco mais adequada das emissões de gases das
mudanças climáticas. O futuro do
planeta, em grande medida, depende das opções que fizermos em termos de combate
a desigualdades, de concepção de desenvolvimento e de estilo de vida. Não se
trata de voltarmos às cavernas, mas de aproveitar a crise para preparar um
“novo normal” mais virtuoso em termos civilizatórios.
Há muito que se sabe
que os momentos de crise são oportunidades de mudanças. Discute-se agora se a profundidade das nossas crises atuais
será capaz de gerar grandes mudanças de paradigmas. Há os que crêem que após a
atual pandemia passar, e tudo voltar ao “normal”, o normal já será outro.
Outros acreditam que as mudanças serão apenas temporárias e cosméticas,
insuficientes para romper esse paradigma baseado em desigualdades sociais,
consumo desenfreado e individualismo exacerbado, que são as causas principais
de degradação da sociedade e da natureza. Tudo depende do que fizermos ou
deixarmos de fazer.
Em um mundo
globalizado tais questões já se tornaram universais. A pandemia do coronavirus
veio na direção do aprofundamento da compreensão de que o enfrentamento de
problemas sanitários também exige articulação mundial, inclusive com o
fortalecimento de instituições multilaterais como a OMS.
Os diversos países do
mundo, em diferentes graus de desenvolvimento, deverão sair da atual crise com
mudanças sociais, ambientais e econômicas.
O direito a uma Renda Mínima Universal, para o cidadão, saiu
reforçado. A experiência da quarentena ajudou
a recolocar na ordem do dia a questão da redução da jornada e a incorporação de
novas modalidades de trabalho como o home office. A segurança alimentar e de
insumos para a saúde foram reforçados com questões estratégicas.
O mundo está intimado
a se repensar. Mas em tudo, se impõe uma visão global. Não existe salvação fora
do mundo, seja na questão ambiental, social ou sanitária.
O Brasil está em um
mau momento. Nossa crise política nos desmoraliza mundialmente. Na pandemia
temos sido expostos a vexames internacionais, da mesma forma como sucedeu no
ano passado com a questão das queimadas.
O país não suporta três crises ao mesmo tempo.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro e professor
aposentado da UFMS
Nenhum comentário:
Postar um comentário