A FALTA DE CONFIANÇA NO PRESIDENTE
O brasileiro não gosta
de política e não confia em suas instituições. Isso é muito ruim para a
democracia.
Existe hoje um
mal-estar institucional. A elite política não goza da confiança dos cidadãos o
que incentiva os cidadãos a buscarem lideranças messiânicas como uma válvula de
escape. Nosso sistema não tem sido capaz de gerar uma adesão cívica, como chama
a atenção o Professor Marco Aurélio Nogueira. Assim nasceu o mandato de
Bolsonaro.
Confiança é uma
palavra chave. É o sentimento de segurança, convicção ou expectativa que se tem
de que um indivíduo, grupo ou instituição atue da maneira esperada, em uma dada
situação. A confiança é uma espera baseada em probabilidade positiva de que a outra
parte cumpra o que prometeu, ou o que é a sua finalidade.
Na vida econômica a
existência de confiança é decisiva. Não houvesse confiança não haveria moeda,
cujo valor depende somente da confiança nela depositada. A decisão entre
reinvestir ou distribuir lucros depende também da confiança que se tenha no
retorno ampliado dos investimentos. No caso de investimentos estrangeiros
diretos (IDE), estes dependem da confiança que se tenha nos fatores políticos
econômicos, geográficos e culturais de um país, especialmente na estabilidade
das regras do jogo.
Mas é no campo da
política onde é mais crítica a questão da confiança, já que é ela que cria e
destroem os líderes. Nesse âmbito a situação do Brasil é crítica.
Recente pesquisa (XP
investimentos, jan.2020), no início deste ano, apontou os níveis de confiança
nas instituições. Entre as melhores classificadas ficaram Forças Armadas 63%;
Igreja Católica 55%; Igrejas Evangélicas 40%. A confiança na Presidência da
República foi de 37%, mas está caindo aceleradamente; Senado 15%; Câmara dos
Deputados 11% e Partidos Políticos 6%. Percebe-se o desprestígio indiscutível
das instituições políticas.
Nosso presidente não
tem gozado da confiança necessária para governar. Pesquisa recente do mesma
fonte, mostrou a queda na avaliação do Governo. São apenas 28% os que o
consideram bom e ótimo, contra 42% que o consideram ruim ou péssimo – os piores
números da série história. Ao mesmo tempo tem melhorado a imagem do Congresso e
dos governadores. Estivéssemos em regime parlamentarista, um voto de
desconfiança já teria derrubado o gabinete, sem crise, na maior normalidade.
Falta ao Governo, base
congressual, resultado da sua desastrada tentativa de montar sustentação com as
bancadas temáticas e não com os partidos políticos. Hoje, diante da
possibilidade de impeachement, o Presidente tenta reverter a situação com a
fidelização do Centrão, em troca de cargos, prática que esconjurava durante as
eleições. Isso tem diminuído ainda mais a confiança da opinião pública.
Outro segmento com o
qual esperava governar era o militar. Embora haja uma militarização do governo,
existem indícios de que, institucionalmente, as Forças Armadas começam a temer
que o desgaste do governo possa contaminar a sua liderança moral e o seu
prestígio. Bolsonaro parece tê-las no varejo, mas não no atacado.
Sem confiança e sem
adesão cívica não se consegue governar. Bolsonaro já se encontra em modo de
impeachement. A espera de Color foi a chegada a 7% de popularidade; Dilma 8%.
Com relação ao nosso atual presidente, deixado à sua própria sorte, com o
roteiro diário de malfeitos, insensibilidades e imprudências, seu tempo logo se
esgotará.
Como Yuval Harari
explicitou em recente artigo na revista Times, hoje a humanidade enfrenta uma
crise aguda, não apenas devido ao coronavírus, mas também devido à falta de
confiança entre os seres humanos. Para derrotar uma epidemia, as pessoas
precisam confiar em especialistas científicos, os cidadãos precisam confiar nas
autoridades públicas e os países precisam confiar uns nos outros. No caso
brasileiro, essa realidade global combinada com o estilo Bolsonaro de governar,
cria uma situação insustentável.
Nessa situação, sem
dúvida alguma, o Brasil não conseguirá sair de suas crises com a baixa
confiança na liderança do atual presidente.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro civil, professor aposentado da
Um comentário:
Parabéns Fausto!Concordo plenamente com seu artigo.Grande abraço.
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