SOLENE ISOLAMENTO
Esta semana o mundo
olha para Davos. É a cidade mais alta da Europa, com 1560 metros de altitude e
11 mil habitantes. Nessa comuna suíça do Cantão Grisões, reúnem-se lideranças
empresariais e políticas, pioneiros digitais e personalidades públicas, todas
preocupadas com os problemas globais. São esperadas grandes decisões que podem
afetar a vida de todos. Já se disse que o Fórum Econômico Mundial "é onde
os bilionários dizem aos milionários o que a classe média sente" (Jamie
Dimon, do banco JPMorgan).
Mas não é a apenas
isso. Cerca de um terço dos participantes é da sociedade civil - grupos que
fazem campanha sobre pobreza e desigualdade, meio ambiente e direitos humanos,
além da academia e da mídia.
Tudo começou após o
fim da Guerra Fria, em 1971, quando um engenheiro e economista Klaus Schwab
teve uma ideia não convencional. Era a “teoria das partes interessadas” segundo
a qual uma empresa deve atender a todas as partes interessadas, não apenas a
seus acionistas, mas também seus funcionários, fornecedores e a comunidade da
qual faz parte. A visão para esse “capitalismo de partes interessadas”,
socialmente responsável, se tornou o princípio norteador do Fórum Econômico
Mundial.
Entre os grandes temas
do encontro de 2020, constam: futuros saudáveis, como salvar o planeta,
tecnologia para o bem, sociedade e futuro do trabalho e economias mais justas. Eis um rol de questões globais que
nenhum país pode resolver sozinho e demandam instâncias e acordos
multilaterais.
Também anualmente, de
maneira simétrica a Davos, os movimentos sociais realizam, em Porto Alegre, o
Fórum Social Mundial que acontecerá neste mês de janeiro, também com pautas
globais.
Todos os últimos
presidentes brasileiros buscaram a vitrine de Davos: Fernando Henrique, Luís
Inácio, Dilma e Temer. Lula compareceu três vezes. Bolsonaro compareceu em
2019, acompanhado dos ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores), Paulo
Guedes (Economia), Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) e um de seus
filhos, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Em 2020, a
representação será terceirizada apenas para Paulo Guedes. O chanceler Araújo
deixará de comparecer, para prestigiar a Conferência Hemisférica
Antiterrorismo, em Bogotá, na Colômbia, travando a sua guerra fria particular.
Mas, pelo menos dois pré-candidatos presidenciais de oposição, marcarão
presença: Luciano Huck e João Dória.
Não sei quais razões
tem o presidente Bolsonaro para não estar presente, mas provavelmente devem
estar ligadas, ao seu desgaste internacional em questões críticas como meio
ambiente, direitos humanos e cultura, bem como pela sua constrangedora
subserviência ao presidente Trump. Seguramente, não é uma personalidade bem
vista internacionalmente.
Na sua estréia
mundial, no fórum de 2019, sob grande curiosidade, Bolsonaro fez a abertura do
evento. Em um pronunciamento tímido de menos de 10 minutos, quando tinha
disponível 45 minutos, o presidente afirmou à elite econômica mundial que seu
Governo não teria viés ideológico, falou ainda que o Brasil iria incentivar os
negócios levando em conta o meio ambiente. Em um ano de governo, a verdade se
impôs.
Revelou-se
isolacionista, imitando Trump. Mostrou-se negacionista, não aceitando que as
ações predatórias dos homens sejam responsáveis pela destruição do
planeta. Dá constantes sinais de
simpatia pelo autoritarismo. Enfrentou a inteligência da comunidade científica
menosprezando seus ensinamentos. Sintetizando, optou pela contramão da história
e da civilização.
É possível, também,
que queira evitar um incomodo e provável encontro com a “pirralha” Greta, o
“incendiário” Leonardo de Caprio e o “idiota, cretino e mal casado” Macron,
todos brilhando no palco iluminado.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro e professor
aposentado da UFMS
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