O PACOTE MAIS BRASIL
Depois de forte
disputa política e ideológica, foi concluída a Reforma da Previdência. Na
discussão desse projeto, o Congresso mostrou forte protagonismo, diante da
falta de base do Governo e de visível inapetência do Presidente pela política.
Apresenta agora o
ministro Guedes, o seu Plano Mais Brasil de reformas do Estado. Compõe-se de
três Projetos de Emendas Constitucionais: a do Pacto Federativo, a dos Fundos
Constitucionais e a do Estado de Emergência; soma-se a isso um conjunto de
projetos de lei e medidas provisórias.
Apesar das muitas e
justas ressalvas quanto às medidas é inegável que os problemas identificados pelo
governo são reais e teriam que ser enfrentados por qualquer governo responsável
que estivesse no seu lugar.
Não dá para o governo
continuar gastando mais do que arrecada, aumentando a dívida pública; não dá
para continuar o descontrole das isenções fiscais, muitas concedidas sob a
forma de privilégios inconfessáveis; não é aceitável a manutenção e a criação
de novos e custosos municípios, no mais das vezes, criados por puros interesses
eleitorais; é inaceitável a continuidade de orçamentos que se consomem em
despesas obrigatórias, pouco ou nada deixando para investimentos no
desenvolvimento para a geração de empregos; não é possível convivermos mais com
estados e municípios quebrados, insolventes e sem responsabilidade fiscal.
É louvável que o
Governo tenha colocado esses temas em discussão, superando o imobilismo de
tantas décadas, mas é obrigação da sociedade e das forças políticas
democráticas a análise acurada das propostas.
O Pacote de Guedes,
sem proteção aos mais pobres, provoca resistência até em liberais do Congresso.
Para o presidente Rodrigo Maia, tudo leva a crer que essa iniciativa “tem
cheiro de jabuti em cima de uma árvore”.
Afinal o governo se
orienta por uma visão liberal economicista, isenta de preocupações sociais,
onde o povo é apenas um grande estorvo. Paulo Guedes segue mesma concepção dos
anos da ditadura militar, quando se acreditava que bastava melhorar os índices
econômicos para gerar mais empregos e retirar a população da pobreza.
O exemplo recente das
revoltas no Chile, de cujas reformas Guedes participou, deve nos levar uma
cuidadosa reflexão sobre essas idéias.
Diante de tudo isso,
também se coloca uma questão: como as forças democráticas, entre elas a
esquerda, devem se comportar diante dessas iniciativas?
Esta esconderá a
cabeça na areia, como fazem os avestruzes, e como fizeram quando da Lei de
Responsabilidade Fiscal ou irão para o tudo ou nada como fizeram na Reforma da
Previdência. A esquerda cumprirá seu papel mudancista ou se transformará em
ex-querda, como caracteriza o professor Cristovam Buarque? Em uma situação de
grave crise econômica e social, como vivemos hoje, será inaceitável a omissão,
ou a simples marcação de posição, com perspectiva eleitoral.
Há muito convivemos na
sociedade com ideologias político-sociais conservadoras e reformistas. A
primeira com a sua radicalização reacionária e a segunda com sua forma extrema,
revolucionária. O caminho das reformas é o caminho responsável para enfrentar
os enormes problemas do País. O exemplo
da Reforma da Previdência mostra as possibilidades de melhorar as iniciativas
do Governo, no Congresso, escoimando-as de formulações mais conservadoras e
reacionárias.
Importante papel
deverá ser jogado pelo ex-presidente Lula, pela sua incontestável liderança e
carisma. Aí poderá ser, mais uma vez, julgado perante a história. Travará a
batalha democrática e reformista, ou estará mais uma vez pavimentando o caminho
de Bolsonaro para 2022?
FAUSTO
MATTO GROSSO
Engenheiro
e professor aposentado da UFMS
14.11.2019
2 comentários:
Alô Fausto, tudo certo? Seguinte: já procurei em várias fontes sobre a participação do Paulo Guedes na implantação de políticas econômicas e regime de previdência no Chile, época de Pinochet, mas a única informação que encontrei foi que êle foi para o Chile e trabalhou e fez pesquisas na universidade chilena, não tendo nenhuma atuação a nível de governo. Estou te encaminhando matéria sobre isso. Abs, Zé Augusto
Fico no aguardo, obrigado
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