TRABALHO, RENDA E FUTURO
Há hoje no mundo, uma
intensa controvérsia a respeito dos impactos das novas tecnologias, na vida
social. Uma das mais preocupantes é sobre como será afetado o mundo do trabalho.
Há aqueles que
defendem que para cada posto de trabalho extinto, surgirão outras novas
oportunidades.
Outros imaginam que as
novas tecnologias de informação e os robôs criarão um explosivo mundo de
humanos descartáveis. Além desse desemprego estrutural, haverá estagnação da
demanda e agravamento das crises sociais no mundo inteiro. Todos os grandes saltos tecnológicos, da
revolução agrícola até a revolução tecno-científica do século passado,
impuseram perdas para muitos e redefiniram ganhadores e perdedores. Mas a
humanidade acabou fazendo as transições.
Será que a mesma
lógica prevalecerá para o nosso futuro próximo? A que preço? Eis a grande
questão.
Por conta disso, urge
pensar a sociedade pós-trabalho, a economia pós-trabalho e a política pós-trabalho.
No mínimo por precaução.
Isso não é fácil, pois
a lógica que preside nosso tempo é a lógica do trabalho. A Reforma Protestante
reconceituou o trabalho indicando-o como um dever para que se possa merecer a
graça divina. Também David Ricardo com sua teoria do valor-trabalho apontou que
a criação de qualquer valor só poderia vir do trabalho humano, conceito esse
apropriado também pelo pensamento marxista.
Trabalhar significava
dar sentido à vida, e passou a ser considerada a fonte de dignidade humana.
Tudo isso agora está em xeque, quando caminhamos para uma sociedade sem
trabalho, onde a inteligência artificial e os robôs trabalharão desempregando
as pessoas. Mudar essa maneira de pensar significa uma verdadeira revolução que
provavelmente será disputada por diferentes visões de mundo
O próprio
baronato do Vale do Silício, que vive próximo do futuro, começa a articular
alternativas para esse cenário devastador. O bilionário Mark Zuckerberg,
fundador do Facebook, em recente discurso de formatura em Harvard, se
manifestou “Chegou a hora de nossa geração definir um novo contrato social”.
Apontou também que os Estados devem garantir uma renda mínima a seus cidadãos,
para que eles deem conta de despesas básicas como alimentação, moradia, saúde e
requalificação profissional permanente.
Isso mesmo, proposta
semelhante àquela do projeto do ex-Senador Suplicy, sua razão de vida,
transformado em lei em 2004 e que nunca foi regulamentado.
Mas Zuckerberg não é
doido, nem está sozinho. Ele faz parte de um grupo de lideranças do Vale do
Silício que, por estarem muito próximos da fronteira do futuro, estão
preocupados em encontrar saída, no mesmo sentido.
Países como Holanda,
Finlândia, Canadá e Quênia (este, com ajuda de recursos do Vale do Silício) têm
projetos em fase inicial de adoção. Cidades da Escócia e da Espanha discutem a
ideia. Mas ainda há um longo caminho pela frente até que iniciativas do gênero
sejam adotadas em larga escala.
Enquanto isso, a
esquerda, que se julga a maior responsável pelos interesses dos trabalhadores,
no dizer de Tessa Morris (New Left Review), tem fracassado em aplicar análises
mais profundas quanto às transformações econômicas implícitas na economia do conhecimento.
Ainda estão perplexas sem saber onde foi parar a mais valia, no geral, pensando
o mundo atual com o ferramental que Marx usou para entender o capitalismo do
Século 19.
São necessárias
perspectivas novas e críticas sobre as profundas mudanças econômicas pelas
quais estamos vivendo – mesmo que isso envolva um risco real de “heresia"
ou ao fuzilamento por “revisionismo”
Há que se disputar o futuro, para não deixar
as iniciativas para os neoconservadores que vendem a idéia de que a revolução
digital trará um mundo perfeito, com final feliz para todos.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro Civil e
professor aposentado da UFMS
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