NACIONALISMO, CLIMA E FUTURO
A propósito
do clima atual, que está incendiando o país, veio à minha lembrança “Não verás
país nenhum”, livro escrito por Ignácio de Loyola Brandão, lá pelos idos dos
anos 1980. O pano de fundo da narrativa
era a ameaça nuclear. A obra, uma anti-utopia, descrevia o que poderia vir a
ser a vida em um futuro distante.
Apesar de toda a
descrição assustadora, o que mais me ficou na memória foram pessoas fugindo do
forte sol que aniquilava qualquer vida que fosse atingida. Todos tinham que se
abrigar, em pé, debaixo de imensas Marquises Monumentais, construídas pelo
Ministério de Obras Faraônicas Populares. Controlando tudo havia o “Esquema”.
Apenas uns poucos subversivos cultivavam sementes sobreviventes em
subterrâneos.
Essas descrições,
mutatis mutandis, poderiam servir para retratar nosso planeta queimando com as
mudanças climáticas. Já a sentimos na Amazônia virando fumaça, na Groenlândia
derretendo e nas Bahamas atingida por tempestades devastadoras, cada vez mais
frequentes.
Cada vez mais, sugamos
recursos do meio ambiente, devolvendo-lhe lixo e veneno, o que tem mudado a
composição da atmosfera, do solo e da água.
É certo que o homo
sapiens existe a centenas de milhares de anos e sobreviveu a inúmeras idades do
gelo e ondas de calor. Resistirá a essa? Mesmo que a civilização se adapte,
quantas vítimas perecerão?
Para muitos, esses
fenômenos parecem distantes, mas não o são. As mudanças climáticas já são uma
realidade para a população mundial e as evidências já fazem parte do dia-a-dia
do brasileiro.
Erupções vulcânicas no
Peru já fecharam aeroportos no Centro-Oeste. Os incêndios da Amazônia encobrem
o céu em São Paulo. O fogo nos países africanos também já poluem cidades
brasileiras. É impossível saber se o oxigênio que respiramos é nacional ou
importado.
O Painel Brasileiro de
Mudanças Climáticas - organismo científico nacional - em relatório recente, apontou
como serão afetados alguns aspectos importantes da vida cotidiana dos
brasileiros. A quantidade e a qualidade de agua potável estarão em xeque; a
produção de energia correrá risco; as edificações sofrerão graves danos por
deslizamento de encostas e inundações; acenderá um alerta vermelho para o
sistema de saúde, pois alterações do meio ambiente e os eventos climáticos
também causam impactos negativos sobre a saúde das pessoas. Apontou também que
a parceria é chave para enfrentar os problemas, eis aí uma questão chave.
Onde se encaixa o
nacionalismo? Conforme chama a atenção
Yuval Harari, nenhuma nação, mesmo poderosa, será capaz de fazer parar o
aquecimento global. Para que medidas sejam eficazes tem que ser adotadas em
nível global. Quando se trata de clima, os países simplesmente não são
soberanos.
A reação dos europeus
ao aumento das queimadas na Amazônia foi mal recebida pelo governo brasileiro.
Embora existam muitos interesses inconfessáveis, a proteção do bioma amazônico
é do interesse do Brasil, mas é um interesse coincidente com o dos demais
países do planeta. O que serve para a Europa, neste caso, serve também para o
Brasil. Precisaríamos dar o exemplo da responsabilidade ambiental.
Em recente artigo
“Chega de gols contra” Fernando Henrique Cardoso apontou que em lugar de reagir
toscamente, negando dados empíricos e insultando cientistas e chefes de Estado
de outros países, deveríamos ter reagido prontamente para combater as queimadas
e mostrar, na prática, o compromisso soberano do Brasil com a proteção do meio
ambiente. Afirma ainda que patriotismo não se mede por bravatas nacionalistas,
sobretudo com insultos.
Daqui para frente,
nossa preocupação não deve ser apenas cuidar melhor do meio ambiente, mas
também das nossas escolhas políticas.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro civil, professor aposentado da UFMS
Um comentário:
Aparentemente,quem tem mais tecnologia vai dizimar quem tem muita gente sem tecnologia. No mundo da inteligência artificial a mão de obra não especializada, que é o consumo de massa, serão dispensados.
Se acontecer, é uma realidade muito, muito triste,desmerece a própria Vida.
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