O BRASIL DIANTE DO MUNDO
A eventual entrada do
Brasil na Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico – OCDE,
sinalizada mas ainda não concretizada, é uma questão complexa e ainda
indefinida. Trata-se de trocar o status do país quanto ao seu grau de
desenvolvimento. Significa sair da condição pais “em desenvolvimento” para
entrar no clube dos países ricos.
Participar atualmente
da Organização Mundial do Comércio–OMC, significa ser beneficiário de certas
vantagens e proteções concedidas aos países em desenvolvimento. Participar da
OCDE funcionaria como uma espécie de ampliação de “grau de investimento”, o que
lhe permitiria ser mais atrativo para grandes investimentos estrangeiros,
abrindo-se mais ao comércio internacional.
Paralelamente a isso,
está acontecendo também a tramitação do acordo de cooperação entre o MERCOSUL e
a União Europeia, cuja negociação também era antiga. Neste caso, ainda a ser
aprovado pelos parlamentos dos países membros, o Brasil terá que observar
rígidas exigências controle ambiental, onde se incluem a questão das queimadas
e continuidade do País no acordo do clima, do qual Bolsonaro pretendia se
afastar.
Esses dois
acontecimentos resultaram de pleitos antigos, desde os tempos de FHC, e que
agora caíram no colo do Presidente Bolsonaro, talvez como um presente
indesejado, pois o obrigará a prestar contas sobre direitos humanos e questões
ambientais. Ademais, também estaremos nos afastados mais dos países árabes e da
China, nossos grandes parceiros comerciais.
O presidente
brasileiro, desde a campanha propunha relações bilaterais privilegiadas com os
Estados Unidos. Trump proclamava “America first”, Bolsonaro imitava aqui com o
“Brasil acima de tudo”. Na sua última visita, dando continências à bandeira
americana, voltou a proclamar, vexatoriamente, “Brasil e Estados Unidos, acima
de tudo”, esquecendo até de falar em Deus.
Da mesma forma nosso
enigmático e esdrúxulo ministro de Relações Exteriores, já na sua posse,
proclamava para espanto de muitos que “globalismo é a globalização econômica
que passou a ser pilotada pelo marxismo cultural”, prosseguia, “é um sistema
anti-humano e anticristão. A fé em Cristo significa, hoje, lutar contra o
globalismo”, “não mergulhemos nesta piscina sem água que é a ordem global”.
De qualquer forma, os
dois acontecimentos parecem serem bons para o Brasil. É a afirmação da
realidade de uma nova ordem mundial resultante do avanço das forças produtivas
na sociedade pós-industrial, fruto principalmente da revolução nas tecnologias
de informação e comunicação. A princípio isso é irreversível.
Se não buscarmos, uma
integração competitiva nas grandes cadeias mundiais de valor, seremos
integrados compulsoriamente, como subordinados. É pegar ou largar.
Vale a pena reler o
empoeirado Manifesto Comunista, onde o velho filósofo da Prússia Renana
apontava que a burguesia, pela sua exploração do mercado mundial, já naquela
época, havia configurado um mundo cosmopolita onde produção e o consumo de
todos os países haviam se unificados, para grande pesar dos “reacionários”.
Não há saída fora desse mundo cosmopolita.
Nenhum dos grandes problemas contemporâneos pode ser enfrentado fora do
contexto das grandes organizações multilaterais. Regras nacionais serão sempre
insuficientes. Sozinho, nenhum país conseguirá enfrentar problemas ambientais,
de comércio internacional, do disciplinamento dos fluxos financeiros, da
conectividade do conhecimento científico, da circulação de pessoas e do combate
ao crime organizado, entre outros. O isolamento só acarretaria o maior
empobrecimento da população e prejuízos aos interesses nacionais.
Quanto ao presidente
Bolsonaro, me fez lembrar de uma hilária narrativa do comediante José de
Vasconcelos na qual o atacante português, após marcar um gol no Brasil, saiu
gritando, “foi sem quer, foi sem querer”.
Incrível, né!
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro civil, professor aposentado da UFMS
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