REEQUILÍBRIO DOS PODERES
A última campanha
eleitoral foi realizada dentro de um clima de profunda revolta da população contra
os políticos e os partidos. Não sem razão, após a grande expectativa criada
pela redemocratização, parecia que no Brasil tudo tinha dado errado.
Nosso presidente fez
sua campanha eleitoral surfando nessa descrença. Discursar contra a política
deseduca, e foi uma grande irresponsabilidade, pois ela é o grande instrumento
da democracia, para a disputa dos interesses legítimos da sociedade.
Durante a formação do governo, sem dar trela
aos partidos e aos políticos, o Presidente formou sua equipe com quadros
militares e do grupo ideológico olavista, em relação ao qual mantinha simpatia.
Negociou, também indicações e apoios, com as bancadas temáticas: ruralista (119
votos), evangélica (82 votos) e da segurança (32 votos). Com essas, pretendia
montar base de apoio no Congresso.
Essa estratégia, ao
que parece, não deu certo. Após desavenças internas três ministros já foram
trocados, em menos de seis meses, entre eles, dois militares. Várias outras
mudanças já ocorreram, também no segundo escalão.
No Congresso o Governo
não conseguiu formar uma base de apoio. A aposta que fazia nas bancadas
temáticas não deu certo, como se previa, pois todo o processo legislativo é
baseado nas estruturas dos partidos políticos, com destaque para as lideranças
partidárias. Elas é que decidem o rumo e a articulação das votações, juntamente
com os poderosos presidentes das duas Casas. Embora seja da tradição brasileira
que todo presidente consegue montar maioria, e controlar o Congresso, tal não
está acontecendo. O que se vê é o Legislativo, valendo-se da sua autonomia,
assumindo o protagonismo da inciativa política, para desconforto do Presidente.
Os principais projetos
apresentados, o da Reforma da Previdência e o da Segurança, estão ainda vivendo
impasses. O da Previdência foi transformado em um substitutivo que o poderoso
Ministro Paulo Guedes está rejeitando a paternidade. Transformou-se em um
projeto do Congresso, com importantes modificações, especialmente quanto ao BPC
– benefício de prestação continuada - a aposentadoria rural e a previdência
privada, esta última, menina dos olhos do ministro.
Barrado na sua
principal propostas para o equilíbrio fiscal, e com a continuidade da crise
econômica, o Governo começou a sofrer crescente desgaste na opinião pública.
Diante disso o Presidente reagiu com uma série de inciativas voltadas para
garantir seu eleitorado mais fiel, usando medidas provisórias e decretos, de
validade contestada pelo Legislativo e pelo Judiciário. Assim aconteceu nos
casos da liberação de armas, das medidas de segurança no trânsito, da nomeação
de reitores, da militarização do ensino entre outras. Impasses surgiram também
quanto a sua competência exclusiva para nomeação de dirigentes das agências
reguladoras e quanto à demarcação de terras indígenas pelo Ministério da
Agricultura.
Nesse contexto,
devemos saudar o fortalecimento do Congresso. Esse é o mais importante locus da política e da democracia.
Enquanto o Executivo é representativo da vontade majoritária da nação, o
parlamento é representativo da pluralidade da sociedade. Esse Congresso, que
passou por grande renovação nas últimas eleições, está sendo capaz de melhorar
sensivelmente a PEC da Reforma da Previdência.
Essa situação está
tensionando fortemente a relação entre os Poderes da República. Isso será muito
bom se resultar na afirmação de cada deles, dentro do princípio constitucional
da independência e harmonia. Poderemos ver, então, o encerramento da tradição
da “ditadura do Executivo”. O Presidente não está gostando desse reequilíbrio
de forças, mas na democracia, um Presidente não pode tudo.
O Presidente diz que
não quer ser “Rainha da Inglaterra”.
Nesse caso, talvez tudo ficasse resolvido, mudando o nome do País. Que
tal rei de Bruzundangas, acima de tudo?
Fausto Matto Grosso
Engenheiro Civil, professor aposentado da UFMS
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