TABATA E A NOVA FORMA PARTIDO
A votação da deputada
Tabata Amaral a favor da Reforma da Previdência, contrariando a orientação de
seu partido, tem enorme significado. Permite a discussão da relação entre os
partidos e os movimentos de renovação política.
Partidos políticos nem
sempre existiram; já a política é anterior a eles, desde a polis grega. Será
que os partidos continuarão existindo para sempre, ou são instituições com
prazo de validade?
Segundo Bobbio, a
origem do partido pode remontar à primeira metade do século XIX, na Europa e
nos Estados Unidos. É o momento da afirmação do poder da classe burguesa sobre
a aristocracia, de um ponto de vista político, é o momento da difusão das
instituições parlamentares.
Como referência podem
ser citados os partidos Federalista (democratas) e Republicano nos Estados
Unidos, os Tories (conservadores) e
Whigs (liberais) na Inglaterra, e os Jacobinos e Girondinos na França.
Esses partidos se opunham entre si por suas convicções e interesses sociais e econômicos.
Hoje os partidos se
constituem de um grupo de dirigentes, de alguns detentores de mandatos, de um
séquito de filiados, de uma organização difusa e estável, e de um corpo de
funcionários pagos especialmente para desenvolver atividade de organização
partidária. Nem sempre representam ideologias e programas claros.
Não tendo nascidos prontos, ao contrário, os
partidos são criações históricas, essa forma-partido não está condenada à
eternidade e atravessa por sérios questionamentos na atualidade.
Um dos primeiros
sinais de rebelião veio da Espanha em 2011 com o movimento dos indignados. Em
março de 2013 chegam ao Brasil em grandes manifestações em todo o país. “Vocês
não representam”, gritavam os jovens nas ruas, mobilizando inúmeros outros
setores da sociedade pelas redes sociais. As novas tecnologias de informação e
comunicação começaram a mostrar que era possível fazer política sem partidos
políticos.
Assim surge no Brasil
uma série de organizações demandando por renovação política, com amplitude
ideológica que ia da centro-esquerda até a direita. Inicialmente, eram meras
redes de mobilização, mas várias delas foram se cristalizando como espaços de
formação de novos quadros para a política. É caso do Acredito, do Agora, do
RenovaBR, dos Livres, do Movimento Brasil Livre, entre outros. De negação pura
e simples, acabaram se transformando em instrumentos de “reconciliação” dos
jovens com a política.
Para que pudessem ter
participação no processo eleitoral, esses movimentos começaram a buscaram
espaços partidários, inicialmente na Rede Sustentabilidade e no PPS (atual
Cidadania) com os quais formalizaram acordos explícitos. Mas também no PSB, no
PDT, no DEM e no Novo. As eleições de 2018 foram o grande momento de sucesso
dessas iniciativas, quando elegem cerca de 34 representantes, entre deputados e
senadores, por 11 partidos diferentes.
É assim que surge Tabata Amaral, vinculada ao
Acredito, e eleita através do PDT, como uma das deputadas federais mais votadas
do País.
O caso Tabata, com seu
voto a favor da Reforma da Previdência, representa muito mais do que um simples
caso de indisciplina partidária. Trata-se da do entrechoque entre a renovação
política e as estruturas convencionais dos partidos.
Os partidos terão que
passar por um profundo processo de transformação interna se quiserem se
integrar à nova forma de fazer política. Não mais organizações hierarquizadas,
burocráticas, fechadas à participação da militância e da própria sociedade. Não
mais o centralismo, pretensamente “democrático”, mera expressão dos caciques e
coronéis, que controlam maquinas azeitadas para sua infindável reprodução. Para
a interlocução com os movimentos da sociedade, deverão se transformar de
partidos-maquinas em partidos-movimentos.
O mundo mudou. Apenas
aqueles partidos que estiverem atentos a isso, poderão ter sobrevida e algum
protagonismo no futuro.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro civil e professor aposentado da UFMS
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