UM FALSO
TSUNAMI
Antes da eleição de
Bolsonaro, a imensa maioria dos analistas e das lideranças políticas apontava
que o capitão era um candidato inviável. Poderia até ir ao segundo turno, mas
seria derrotado ao final. Quem de nós não se enganou, também.
O resultado eleitoral,
nos primeiros momentos, parecia um tsunami. Algo inesperado, que surgia de
surpresa, destruindo tudo pela frente. Mas, era um falso tsunami. Suas
premissas já estavam sendo construídas há tempo. Era só olhar para a Europa,
para a eleição de Trump, assim como para as jornadas de junho de 2013. A
globalização fundia todos esses fatos.
Na Grécia, o Syriza,
um partido socialista, para as eleições de 2019, está 20% atrás do
ultradireitista Nova Democracia. Para o Parlamento italiano, o Partido
Democrático (ex-PCI), encontra-se atropelado fortemente pelo partido direitista
5 Estrelas para a disputa de 2019. Na França assistimos o último exemplo da
implosão dos partidos tradicionais, com o novo La République en Marche, que
hoje domina o Parlamento e tem Macron, a ocupar o Champs-Élysée. Ao mesmo tempo
ressalta-se o nítido crescimento do
Frente Nacional, de Marine Le Pen, atualmente em segundo lugar.
Em 2017 aconteceram,
na Europa, eleições presidenciais
chaves, nas quais os partidos de extrema direita, embora derrotados, tiveram
grande crescimento e ameaçam o futuro. Na Alemanha, o partido Alternativa para
Alemanha se tornou a terceira maior força política no parlamento alemão. E, na
Holanda, o Partido para a Liberdade ficou em segundo lugar no pleito. Polônia e
Hungria são países cujos governos são considerados ultradireitistas;
Resta a exceção de
Portugal governado desde fins de 2015 por uma coalizão política de esquerda,
liderada, do Partido Socialista. Tão deslocada do panorama europeu que é
conhecida como “a geringonça”. Essa articulação é citada como modelo por muitos
líderes do PT, entre eles Tarso Genro, que tentam articular aqui uma frente de
esquerda.
Seria viável, uma
solução à la portuguesa, aqui no Brasil?
Segundo Theófilo Rodrigues (UFRJ) o Bloco de esquerda em Portugal tem
53% da Assembleia da Republica, no Brasil, tem pouco mais de 23% da Câmara dos
Deputados. Falta muito para isso.
Parodiando Paulinho da
Viola, as coisas estão no mundo globalizado, só que é preciso aprender.
Outra questão
importante para compreender a vitória de Bolsonaro, é perceber as mudanças
provocadas pelas novas tecnologias de informação e comunicação. O eleitor é
outro e a política tradicional não entendeu isso. Bolsonaro parece que sim.
Vivemos outro momento,
com outros cidadãos e com outros eleitores. Hoje convivemos com a cidadania
líquida, que não tem passado, tampouco tem futuro, é o aqui e agora radical.
Nessa nova sociedade
do consumo, somos mercadoria a nos expor nas redes sociais, absolutamente
vulneráveis às fake-news, o que, aliás, não é novidade na história.
O historiador Robert
Darnton (Harvard) conta que as notícias falsas são relatadas pelo menos desde a
Idade Antiga: “Procópio foi um historiador bizantino do século VI, famoso por
escrever a história do império de Justiniano. Mas ele também escreveu um texto
secreto, chamado “Anekdota”, e ali ele espalhou “fake news”, arruinando
completamente a reputação do imperador Justiniano”.
Com as redes sociais é
possível disseminar informações discriminatórias e violentas que seriam
excluídas pelos meios de comunicação tradicionais. Porém, nas redes sociais,
esses conteúdos circulam com mais facilidade. Até quem inventou a mentira acaba
acreditando nela.
Se fosse adepto da
teoria da conspiração, estaria procurando quem passou a Bolsonaro, a tecnologia
de mapeamento dos algoritmos, ou seja, da cabeça dos eleitores. Ele fez um
discurso individualizado à cada eleitor-consumidor, esse, ávido por resolver o
seu problema ou frustação imediatas. Se isso ainda não aconteceu, devemos nos
preparar, porque brevemente as eleições poderão ser disputadas pelos
algoritmos. O problema é quem está por trás deles.
Fausto Matto Grosso
Engenheiro e professor aposentado da UFMS
07.12.2018
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