A TRÊS COLUNAS DO FUTURO GOVERNO
No primeiro dia do
mandato, o governante aperta o botão e a máquina não funciona. Não é para
desesperarmo-nos, pode ser que ele consiga seu intento antes de terminar o
mandato. O tempo é um recurso escasso que começará a ser gasto no dia da posse.
A ampulheta é fria e insensível.
Conseguirá bons
resultados o governante que trouxer na bagagem um bom plano de governo,
conseguir construir governabilidade e montar uma boa equipe com capacidade
tecnopolítica. Essas três colunas são interdependentes. Falhando uma delas
acabam sendo afetadas as outras.
Vejamos a situação do
próximo governo federal, quanto aos três requisitos.
O programa do próximo
Presidente, se existe, é pouco claro. Foi construído durante a campanha,
acessando grande diversidade de demandas de um eleitorado com raiva e “mal
estar” diante da política tradicional. Os eleitores sabiam o que não queriam,
mas não tinham muita ideia do que fazer. O capitão ganhou esses eleitores pela
emoção, repetindo dogmas ultrapassados a acenando com fantasmas.
Hoje, o programa
parece ser uma colcha de retalhos, com cada pedaço terceirizado para uma pessoa
“competente”, o que confirma a falta de clareza do que fazer. Um programa
retrô, que não aponta para o futuro, e o que é um programa de governo senão um
caminho para onde ir.
O programa que estiver
na cabeça do Presidente é muito importante, afinal nenhum governo pode ser
melhor do que seu governante. A qualidade do líder é um teto para a eficácia de
governo.
O segundo fator, a
governabilidade, é vital para as realizações do governo. Em termos gerais é a
expressão do grau de controle que o presidente tem sobre os recursos políticos.
Indica a maior ou menor capacidade política para tomar iniciativas e
sustenta-las. Ela tem que existir tanto na sociedade, como no Congresso
Nacional.
A grande votação de
Bolsonaro – 39% do eleitorado – é praticamente igual à de Dilma em 2014. Depurada dos votos úteis contra o PT, o apoio
na sociedade deve ser algo entorno de 20% na sociedade. Expressa uma boa base
política como ponto de partida. Para mantê-la e amplia-la, precisa, entretanto,
resultados rápidos. O povo tem pressa e vai querer todos os resultados
prometidos, de imediato. Diante da grande crise fiscal do País esse desafio
torna-se muito difícil.
No Congresso, o novo
Presidente, tenta montar sua base em negociações com as grandes bancadas
temáticas, especialmente agronegócios, evangélica e da segurança. Diz não estar
havendo negociação com os partidos políticos. A grande maioria dos analistas,
entretanto, sinaliza que esse arranjo heterodoxo não deve dar certo. As regras
de funcionamento do Congresso são assentadas nos partidos políticos, na Mesa
Diretora, nas lideranças, nas comissões e nas bancadas partidárias.
Parece haver problemas
de governabilidade na sua própria equipe de governo. Há superposição de
atribuições, principalmente na articulação política e na coordenação de
governo. A equipe nasceu fracionada entre o grupo liberal, o evangélico, o
militar, o ideológico e o familiar, embora esse sem cargos no governo. O
vice-presidente tem expressado sua frustração com relação às funções de
coordenação geral de governo que pretendia exercer. O Presidente poderá também
ter dificuldades em conciliar a agenda liberal com a agenda nacionalista.
Por último, mas não
menos importante, o pilar da capacidade de governo. Fez bem o Presidente em
aproveitar alguns técnicos competentes do governo Temer. A maioria dos outros,
ministros e técnicos novos, necessitará do tempo próprio de aprendizado. Mesmo
aqueles provenientes do mercado, terão que aprender que a atividade de governo
não é uma função simplesmente ideológica ou técnica, é tecnopolítica. Como se
darão, por exemplo, os quadros militares com a necessária componente política
do jogo governamental?
O povo vai querer resultados.
Boa sorte ao Senhor Presidente.
FAUSTO MATTO GROSSO
Engenheiro e professor aposentado da UFMS
13.12.2018
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