O ANO DE OGUM
Pelo candomblé, 2019 será regido por Ogum, nosso São Jorge, o
santo guerreiro. Filho de Iemanjá, dono do ferro e da espada, é representado
por Marte, o planeta vermelho. É o prenúncio de dias muito intensos com grandes
obstáculos a serem enfrentados, com muitas decisões difíceis e inadiáveis.
Na política, 2019
sinaliza um ano de muitas esperanças e muitos medos.
Credenciado nas urnas
democráticas por 39% do eleitorado, Bolsonaro e equipe começa o governo visto
por 75% dos brasileiros como 'no caminho certo', segundo recente pesquisa
Ibope. Nosso povo, reconhecidamente, tem sobrenome de esperança, e torce para
que tudo dê certo.
Por outro lado, o
discurso agressivo, conservador, xenófobo, alinhado a Trump, socialmente
insensível, incentivador da intolerância, causa grande receio e medo a outros
muitos brasileiros. Estes terão o desafio de organizar a oposição.
Não será fácil
Bolsonaro atender as expectativas da população, é muito grave a situação
econômica do País. O orçamento para 2019 prevê um déficit fiscal de 139 bilhões
de reais, medida da distância entre o que precisaríamos gastar e o que
conseguiremos arrecadar. Esse é o tamanho do rombo no cheque especial dos
brasileiros.
O Congresso também
deixou para o futuro presidente, algumas bombas fiscais. É o caso da concessão do reajuste do
funcionalismo, da revisão salarial do Judiciário e da manutenção dos incentivos
à indústria automobilística. A equipe
econômica terá ainda de respeitar o teto de gastos e a regra de ouro (proibição
de tomar empréstimos para cobrir despesas de custeio).
Entre outros, talvez o
problema mais aflitivo seja o desemprego, cuja taxa está próxima de 12% da
força de trabalho, levando ao desespero milhões de famílias.
Mas, o eleitorado do
novo presidente vai ter pressa e Bolsonaro despertou expectativas que não tem
condições de atender. É normal o povo querer ver tudo resolvido, ao mesmo tempo
e agora. Isso não é possível acontecer. As prioridades da população nem sempre
baterão com as prioridades da administração, essa tendo que se virar com
restrições orçamentárias, óbices legais, viabilidade política entre outras. É
provável que caiam a ficha de muita gente e a boa vontade com o novo governo.
Já se disse, 2019 será
o ano da oposição.
Para a oposição achar
seu caminho é necessário, primeiramente, assumir a sua derrota. Centro, centro esquerda e a esquerda foram
esmagados em eleição democrática. Há que se respeitar a vontade do povo e
trabalhar com paciência histórica e modéstia.
No horizonte já
despontam três oposições ao governo Bolsonaro.
A primeira uma frente
de “resistência”, tendo como adversário o moinho de vento do fascismo,
articulada por um isolado Partido dos Trabalhadores. Nesta ainda predomina o
vitimismo e a narrativa da perseguição. Se não se cuidar, vai para o
isolamento.
Também, uma frente de
esquerda que está sendo articulada em torno da liderança de Ciro Gomes (PDT,
PSB e PCdoB), aglutinada pela visão do nacional-desenvolvimentismo herdada do
PT. Terá que se abrir para o centro político se quiser ter futuro.
E, por último, uma
frente democrática, de maior amplitude política, com estratégia mais
aglutinadora, disposta ao diálogo, inclusive com os futuros descontentes,
eleitores que votaram em Bolsonaro, de boa fé, e logo se frustrarão. Assim foi
a frente democrática que derrotou politicamente a ditadura.
Para essa o desafio,
como assinala o Prof. Marco Aurélio Nogueira (UNESP) é necessário o abandono de
dogmas e roteiros já experimentados e que, de olho no século 21, articule
iniciativas que sejam claramente democráticas, abertas, laicas, flexíveis, com
capacidade de expansão e de negociação, que reverberem no Parlamento e nos
ambientes da sociedade civil, compondo o que há de vida ativa no Brasil.
Salve Ogum! Feliz 2019
aos brasileiros.
FAUSTO MATTO GROSSO,
Engenheiro e professor aposentado da UFMS.
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