"Por trás das aparências"
Aproximam-se
as eleições. Os primeiros pré-candidatos começam a aparecer. Será
que teremos boas opções ou seremos reduzidos, mais uma vez, à
triste condição de votar no menos pior?
O
pano de fundo do processo eleitoral que se aproxima é o da
frustração provocada pela natureza da pratica política existente
em nosso País, caracterizada pelo descompromisso programático, pela
promiscuidade entre o público e o privado, pela corrupção, pelo
clientelismo e pela degenerescência das práticas políticas,
situação essa que afeta os mais diferentes partidos e suas
lideranças.
Mas
afinal, como separar o joio do trigo, se nas eleições todos os
discursos são parecidos e os candidatos aparentam serem todos
iguais, aos olhos dos eleitores?
Uma
boa ajuda para a tomada de decisão do voto pode vir da análise da
tipologia de lideres políticos construída pelo chileno Carlos
Matus. Chimpanzé, Maquiavel e Ghandi, assim o autor tipificava os
estilos de liderança política, em uma escala do pior para o melhor.
Tais
como nos grupos de chimpanzés, os líderes, assim classificados, são
caracterizados pela expressão “o fim sou eu”. A forca
representa o seu atributo político principal. Não existe projeto
algum - o líder guia a manada a lugar nenhum e é guiado pela lógica
de que “o projeto é o chefe e o chefe é o projeto”. É o estilo
mais primitivo de fazer política. Os ditadores sul-americanos,
velhos e novos, são uma boa representação desse espécime.
“Os
fins justificam os meios” essa é a síntese da ideologia que
sustenta o estilo Maquiavel. Em relação ao estilo anterior, a
grande diferença é que neste caso há um projeto, que transcende o
líder. O projeto não é mais individual, é coletivo, tem base
social, mas é impossível realizá-lo sem o líder messiânico.
Aqui o poder pessoal não é o objetivo, mas o instrumento. Nesse
contexto, não há adversários, e sim inimigos que devem ser
derrotados e, se necessário, eliminados. A esquerda autoritária foi
pródiga em produzir tais lideranças.
Mas
a humanidade já conseguiu produzir, embora mais raramente, outro
tipo de líder, que baseia a sua liderança na força moral e no
consenso. Ghandi é o paradigma desse tipo de liderança política.
Talvez um bom exemplo mais recente seja Nelson Mandela.
Também
aqui o projeto é coletivo, mas o líder não disputa para sê-lo.
Não precisa força física, lidera pela superioridade de seus
valores e da sua ética. Não precisa construir inimigos para
vencê-los, mas sim subordinar e ganhar os adversários pela razão
objetiva do projeto socialmente superior. Pratica a coerência entre
discurso e ação, essa coisa hoje tão rara na política, cuja
escassez está na origem da desmoralização dos líderes políticos.
Esses
estilos de lideranças políticas raramente são encontrados em
estado puro. Também, o líder não os escolhe ao seu bel prazer. O
estilo real de cada político acaba sendo uma combinação particular
entre esses estilos básicos e ainda vai depender do contexto dentro
do qual se realizam as disputas.
A
cada estilo de liderança vai corresponder, no exercício do poder,
um comportamento político esperado. O de pensar e usar o governo
como coisa sua, ou comportar-se segundo princípios republicanos. O
de isolar-se no uso pessoal do poder ou de compartilhá-lo com a
sociedade. O de perpetuar conflitos ou buscar convergências que
possam viabilizar projetos de interesse público.
A
essa altura, cada um deve estar procurando colocar as figurinhas dos
líderes das disputas nos álbuns de personalidades, ou nos
porta-retratos que lhes correspondem. O critério é de cada um,
assim como a responsabilidade do acerto ou erro.
Fausto
Matto Grosso.
Professor
da UFMS, membro do Movimento por uma Cidade Democrática
25
MAI 2016
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