ROTEIROS PARA TRAGÉDIA BRASILEIRA
Dizia
um filósofo nascido no reino da Prússia, que os homens fazem a
história, mas não a fazem como desejam, nem dentro das condições
que gostariam, suas ações são condicionadas, assim, pelo contexto
histórico em que vivem. Parto dessa ideia para analisar as difíceis
saídas para a tragédia vivida pelo país.
Considero,
também, alguns pressupostos. Primeiramente, a continuidade do
processo democrático está garantida em qualquer circunstância. O
Brasil amadureceu e as instituições democráticas funcionam
normalmente, garantidas pela Constituição, pelas instituições
existentes e pela vontade majoritária da Nação. Não há hipóteses
de golpes.
Da
mesma forma, ninguém conseguirá segurar o processo de apuração
dos atos de corrupção desencadeados pela operação lava-jato e
outras, que sinalizam uma nova marcação no tempo histórico da
sociedade brasileira. Tombarão tantos quantos forem sendo apontados,
comprovadamente, pelas ações do Ministério Público e da Polícia
Federal, com inteiro apoio da população.
Outro
aspecto importante é que, em hipótese alguma, existe a
possibilidade de o bloco de poder atual voltar a ter condições de
liderar o processo de saída da crise. Não há volta nesse processo
desencadeado a partir do impeachment na Câmara, com previsível
confirmação de legitimidade pelo Supremo Tribunal Federal.
Presenciamos o esgotamento do ciclo do lulo-petismo.
O
futuro, entretanto, poderá nos reservar ainda muitas surpresas com
vários desdobramentos possíveis. O fator de maior impacto ficará
por conta de uma eventual anulação das eleições de 2014 pelo TSE,
por conta de financiamento eleitoral ilegal, decorrente da corrupção.
Com seu rito próprio, esse tipo de decisão costuma ser demorado. O
tempo do TSE poderá implicar em novas eleições diretas ainda neste
ano ou eleição indireta pelo Congresso a partir de janeiro do
próximo ano.
Diante
disso, no processo da vida real, o contexto em que vivemos é o de
termos, em curto prazo, Michel Temer como presidente. É assim que
manda o ordenamento jurídico existente. Temer estará brevemente
diante do desafio do seu contexto histórico. Terá ele capacidade de
montar um ministério de alto nível, com capacidade técnica e
política e representatividade nas forças sociais que apostam nas
mudanças? Imagino que sim, até por instinto de sobrevivência,
poderá fazê-lo, repetindo um papel semelhante ao de Itamar Franco
após o impeachment de Collor.
Só
assim, com um amplo entendimento nacional – político e social –
poderá o novo governo, responsavelmente, arrancar o Brasil da sua
crise, ainda assim por um processo extremamente penoso. Não me
refiro a esse arranjo congressual espúrio que tem marcado a política
brasileira nos últimos anos. A representação política está em
crise, a qualidade dos políticos piorou muito, falta-nos lideres com
compromissos republicanos e com credibilidade. A votação do
impeachment na Câmara, a despeito do resultado positivo, com poucas
exceções, foi de bizarrice explícita e chocante, exibição
pública de personalismo alienado, de populismo e de provincianismo.
O
conjunto das forças políticas e sociais que vierem a compor esse
governo de transição deverá estar tão solidamente alicerçado, de
maneira que esse arranjo possa sobreviver até mesmo à substituição
de Temer, se atingido pela justiça. Poderá esse bloco, inclusive se
projetar como futura aliança eleitoral no caso de convocação
antecipada de novas eleições complementares. Naturalmente ficará
fora desse arranjo o PT, o que não é novidade histórica.
Caberá
a essa nova gestão o desafio de realizar as reformas estruturantes
que não podem mais ser adiadas e, para tanto, precisará da
contribuição de todos aqueles verdadeiramente comprometidos com o
país. Assim, após uma transição penosa, diante da magnitude da
herança maldita deixada pelo lulo-petimo, o país poderá encontrar
caminho mais seguro a partir das eleições de 2018.
Fausto
Matto Grosso
(Engenheiro
e Professor, membro do Diretório Nacional do PPS)
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