''O significado do Fora Dilma''
As
manifestações de rua no 15 de março demonstraram a desaprovação
e a grave crise de confiança dos brasileiros no governo.
A
última pesquisa da CNT/MDA aponta que apenas 10,8% apontam a gestão
Dilma ótima ou boa, enquanto 64,8% a tem como ruim ou péssima.
Pior, mostra ainda que se a eleição presidencial fosse hoje, Aécio
Neves venceria a disputa por folgados 55,7% contra 16,6%. Em relação
aos escândalos na Petrobras, 68,9% acham que a presidente é culpada
e 59,7% se diziam favoráveis ao impeachment, contra 34,7% que se
dizem contrários.
Inicialmente
o governo e o PT tentaram descredenciar os manifestantes como sendo
expressão dos derrotados da eleição presidencial, defensores do
golpe militar, ou reacionários que se opunham aos avanços sociais.
Ao contrário, o que move as ruas é a indignação com o presente e
o imenso medo do futuro.
A
generosa intenção política de combinar desenvolvimento com justiça
social não se assentou em bases sólidas. O projeto de criar um
ciclo longo de desenvolvimento baseado na expansão do mercado
interno tinha limites e centrou-se apenas em ações conjunturais de
incentivo ao consumo individual, criando uma bolha de consumo, sem se
preocupar com reformas estruturais que pudessem lhe dar longo curso,
o que configura uma postura ideológica absolutamente conservadora:
compre mais e vote no PT.
Houve
um grande descuido quanto à expansão de bens e serviços coletivos
como saúde, transporte público, saneamento, segurança e habitação,
vitais em um País altamente urbanizado, com a população
concentrada em grandes cidades, onde a vida do cidadão acaba se
tornando um inferno cotidiano.
Os
equívocos da política econômica levaram à desindustrialização
do País. A participação desse setor no PIB desceu ao nível dos
anos 1940. A nossa economia voltou a se assentar crescentemente na
produção primária, um recuo vergonhoso em termos da história
econômica brasileira. A taxa de crescimento do PIB do primeiro
governo Dilma foi o segundo pior resultado da história republicana.
Pior
ainda, a crise fiscal começa a colocar em xeque todos os
instrumentos de distribuição de renda montados nos últimos 20
anos. Os aumentos do salário mínimo acima do aumento da
produtividade média da economia deverão se tornar cada vez mais
improváveis, entre outras razões pela crise da Previdência. A
continuidade dos programas de transferência de renda já se encontra
sob pressão em função do ajuste fiscal. A dura realidade do
desemprego marcará os próximos dois anos, pelo menos. Enfim, deu no
que tinha que dar a política de distributivismo sem geração de
riqueza.
A
outra crise se dá no plano da política. A governabilidade foi
montada a partir do loteamento do estado nacional, para a manutenção
da base de apoio político-partidária. O escândalo da Petrobras é
apenas a ponta de um iceberg imenso que está ainda por se conhecer.
Esse tipo de prática rebaixou a credibilidade do sistema
político, tornando a denúncia da corrupção o principal mote das
vozes roucas das ruas.
Esse
quadro mostra o esgotamento de um ciclo na política brasileira.
Enfim, a pequena política, de curto prazo, sem dimensão
estratégica, de simples projeto de poder sem projeto nacional, levou
o País a uma imensa crise, que se reflete na crescente mobilização
nas ruas. O próximo 12 de abril deverá comprovar isso. A festa
acabou e esse bloco de poder não tem nada mais a oferecer ao País.
O
que nos alivia é que o Brasil não vai acabar. Mas para passar por
esse difícil período precisaremos da boa política, da grande
política, que tem faltado ao Brasil. Com Dilma ou sem Dilma, esse
problema terá que ser enfrentado com o esforço da nação. Poderá
ser com Dilma? Isso é o que atualmente garantem a Constituição e
as regras do jogo democrático. Mas para isso Dilma terá que,
dialeticamente, se transformar no contrário do que é, com ou sem
PT.
Engenheiro
e professor da UFMS aposentado Fausto Matto Grosso
Nenhum comentário:
Postar um comentário